quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Estrangulamentos tem potencial para causar danos cerebrais no Jiu-Jitsu e no MMA



No ano passado, um estudo foi publicado discutindo o risco de dissecção da artéria vertebral por estrangulamentos em esportes de combates. Um estudo mais recente desse caso foi publicado sugerindo que, além disso, golpes repetitivos podem, de fato, levar a lesões cerebrais em atletas de Jiu-Jitsu e MMA. Segundo este estudo, golpes como o mata-leão e a guilhotina tem o potencial para contribuir no aumento de lesões cerebrais em praticantes de ambas as modalidades ( Jiu-Jitsu e MMA ).

O estudo mais recente sobre essa possibilidade investigou um homem de 40 anos que praticava MMA há uma década. Ele desenvolveu problemas de memória e outras disfunções cognitivas. Em última análise, ele foi diagnosticado com “encefalopatia traumática crônica” ( “ETC” ). Os autores opinaram que o “ETC” provavelmente foi causado pelos golpes repetitivos concussivos e subconcussivos que o paciente experimentou no MMA, observando que “Nosso paciente apresentou sintomas de ‘ETC’ secundário a traumatismo cerebral subconcussivo repetitivo recebido durante treinamentos e competições”.

Curiosamente, no entanto, os autores observaram que algumas das disfunções do lutador podem ser devidas a asfixia repetitiva durante o treinamento e competições de Jiu-Jitsu e MMA. As seguintes observações foram publicadas:

“O que talvez seja pouco discutido é o papel da asfixia na contribuição para o comportamento de longo prazo e mudanças de memória no atleta de MMA ao longo do tempo. Como mencionado, um estrangulamento ( finalização no pescoço ) é identificado como a causa da paralisação da luta quando um competidor se submete ao golpe ou o árbitro interrompe a luta, pois o competidor aflito parece ser sincopal ou asfixiado …. No decorrer da carreira de um atleta de MMA, é certo que eles vivenciariam episódios transitórios de asfixia várias vezes na participação em lutas, ou mesmo durante o treinamento, dado o fato de que o estrangulamento ( finalização no pescoço ) é um ataque comumente aceito. A lesão neurológica devido à compressão do pescoço poderia ocorrer. Nos estudos referentes ao suicídio por suspensão, uma força de 2 kg foi identificada como suficiente para comprimir as veias jugulares ao ponto de causar edema cerebral, seguido por artérias carótidas com 5 kg de força, o que pode causar lesão cerebral hipóxica. A compressão das vias aéreas necessita de uma força maior de cerca de 15 kg, o que leva a hipóxia grave e morte [28]. A ultrassonografia Doppler revela que é possível interromper completamente o fluxo sanguíneo das artérias carótidas e vertebrais em um estrangulamento ( finalização no pescoço ), que é caracterizado pela pressão nas partes laterais do pescoço [29]. A questão da lesão cerebral isquêmica hipóxica ( HI-BI ) pode se desenvolver a longo prazo em atletas de MMA, uma vez que estes são submetidas a frequentes asfixia transitória e estrangulamento, levando a eventos hipóxicos intermitentes no cérebro. Mecanismos comuns envolvidos no desenvolvimento da lesão cerebral isquêmica hipóxica incluem parada cardiorrespiratória, insuficiência respiratória e intoxicação por monóxido de carbono. Sabe-se também que cerca de 30% a 60% dos pacientes que desenvolvem a lesão cerebral isquêmica hipóxica como resultado de parada cardíaca desenvolverão problemas cognitivos, comportamentais e neurológicos persistentes [30]. Prejuízo na atenção, particularmente a velocidade de vigilância e processamento, juntamente com problemas de memória foram observados em sobreviventes com lesão cerebral isquêmica hipóxica. Além disso, há também relatos de disfunção espacial visual, apraxia, agnosia e alterações afetivas e de personalidade em pacientes com lesão cerebral isquêmica hipóxica [30]. Em nosso paciente realizamos testes neuropsicológicos repetidos, que revelaram diminuição do desempenho de seu tempo de atenção e memória ao longo do tempo. Existe a possibilidade de o paciente também ter sofrido algum grau da lesão cerebral isquêmica hipóxica, além do ‘ETC’, o que reduziu suas habilidades cognitivas gerais.”

Também existe um outro estudo completo e intitulado “Perigos das Artes Marciais Mistas no Desenvolvimento da Encefalopatia Traumática Crônica ( ‘ETC’ ) ” que pode ser encontrado aqui.

https://combatsportslaw.com/2019/01/22/case-study-frequent-chokes-in-mma-may-lead-to-chronic-brain-injury/dangers-of-mixed-martial-arts-in-the-development-of/

[ N.E.: Clique no ‘link’ acima ou copie e cole no seu navegador ].

Em contrapartida a comunidade do MMA saiu em defesa do esporte. Seus argumentos são enfáticos.
Segundo estes, com a evolução das regras do MMA, golpes como o mata-leão e a guilhotina-apesar da grande eficiência na definição de uma luta-são técnicas que não trazem danos severos ao atleta, ainda que este sofra um ‘desmaio’ ao receber tais golpes.
Além disso, pode-se dizer também que o fenômeno do ‘apagão’ é uma forma de defesa do organismo para reestabelecer o fluxo de oxigênio ao cérebro.

Também é preciso esclarecer que um golpe como um estrangulamento só traria danos severos a uma pessoa caso fosse aplicado de forma longa e ininterrupta, o que não acontece nos esportes de combate com regras, como é o caso do MMA, por exemplo. Além disso, os atletas são pessoas altamente treinadas e experientes, a ponto de serem capazes de perceber um desmaio iminente e interromper o golpe, mesmo na ausência do sinal de desistência ( os famosos “três tapinhas” ) do oponente.

Não custa lembrar-ainda-que os árbitros das lutas também devem ter o mínimo de preparo.

Mas se você é daqueles que continua chocado ou acredita que os lutadores possam vir à ter algum problema mais grave no futuro-apesar dos argumentos citados acima-eu recomendo a leitura do artigo “os riscos e efeitos dos estrangulamentos no MMA” que foi publicado por Alexandre Matos no site Discovery Esportes, da Discovery Channel Brasil.
Também recomendo que leia regularmente a coluna Ciência da Luta, do site MMA Brasil, para manter-se atualizado em torno desse e outros temas.

P.S.: O artigo que aborda esse assunto foi inicialmente publicado no Combat Sports Law, blog fundado e mantido por Erik Magraken, um advogado contencioso de British Columbia, também consultor jurídico de esportes de combate.

*Texto do colaborador Oriosvaldo Costa. | Escrito em 24/1/2019
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Foto acima : Segundo um novo estudo, golpes como o mata-leão e a guilhotina tem o potencial para contribuir no aumento de lesões cerebrais em praticantes de Jiu-Jitsu e MMA. ( Cortesia : André Corrales / Eric / Pinterest ).

Abaixo : O mata-leão e a guilhotina são as finalizações mais usadas para encerrar uma luta, segundo o Instituto de Pesquisa do UFC. Ainda segundo o trabalho científico divulgado pelo UFC, as finalizações ( assim como os nocautes ) perdem cada vez mais espaço no MMA. Por outro lado, o número de combates que terminam por pontos ( decisão dos jurados ) cresce cada vez mais. ( Cortesia : LFA media ).













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