quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Sifu Edmárcio Rodrigues introdutor do Jeet Kune Do no Brasil volta à ensinar Wing Chun.



ENTREVISTA CONCEDIDA AO SIFU EDMÁRCIO RODRIGUES
ENTREVISTADOR: ORIOSVALDO COSTA

1- Quando você começou à treinar Wing Chun especificamente ?

Sifu Edmárcio Rodrigues : Bem, era o ano de 1993 quando eu li algo sobre Wing Chun e me interessou bastante porque vi que Bruce Lee tinha praticado esta arte, mas na década de 90 não tinha a tecnologia nem as facilidades de hoje, então eu não sabia onde e como procurar. Então, através dos livros de Marco Natali, eu li tudo e pratiquei tudo sobre Wing Chun e passei à praticar informalmente com amigos mais velhos que eu. Portanto somente em 1999 decidi procurar uma escola séria na cidade e em 2000 passei à fazer parte de um escola formal de Wing Chun, que era dirigida pelo único representante na minha cidade e ex-instrutor da Moy Yat Wing Chun.
Minha busca era por Jeet Kune Do na época, mas percebi que o Wing Chun era seu núcleo, então resolvi explorar. Logo procurei um Sifu que fosse adequado à um Wing Chun voltado para combate e defesa pessoal, foi então que resolvi procurar o sistema WT de Leung Ting e parti para buscar o mesmo fora do Brasil.

2- Quais os professores que você teve nessa arte ?

Sifu Edmárcio Rodrigues : Meu primeiro professor informal se chamava Melquezedeque, ele havia aprendido de um amigo e este por sua vez havia aprendido em São Paulo, na época era algo muito bom. Depois de muitas leituras - como já citei - e estudos, procurei outro professor que se chamava Pedro Santos. Posteriormente à prática com meus dois primeiros professores eu fui para a Europa atrás de meu mais influente Sifu, Emin Boztepe. Eu tive muitas horas de aulas privadas, seminários e estudos com Sifu Emin Boztepe e também estudei com Sifu Ingo Weigell e com Sifu Christian Fragoso ( que eram alunos avançados de Sifu Emin Boztepe ) e esses estudos se estenderam por muitas horas, dias e anos, sendo que eu estudei tanto aqui no Brasil, trazendo eles à minha escola e minha casa, como também estudei na Alemanha. Foram muitas horas de aulas privadas, seminário, e estudos, então eu investi muito nessa arte. Depois disso, desenvolvi meu método de ensinar Wing Chun baseado em experiências de lutas reais e confrontos esportivos nos quais eu enfrentei oponentes de outras modalidades de artes marciais.

3- Por que você resolveu abrir novamente as portas da sua escola para o ensino especifico do Wing Chun ?

Sifu Edmárcio Rodrigues : Bem, em 2008 eu me desliguei do meu Sifu por questões pessoais e organizacionais da parte dele, então houve muita decepção de minha parte e mergulhei em tristeza por essa arte, pois eu como um simples Brasileiro, havia feitos grandes investimentos, e passei muita coisa por isso, até mesmo humilhações, estando na Alemanha treinando, mas isso é outra história.
Muitas pessoas perguntam: porque você parou de ensinar? Você não sabe mais Wing chun? E porque voltou?
Bem, a maioria das pessoas não sabem o que eu passei para ter optado em deixar esta arte, então não podem me julgar, mas gostaria de deixar bem claro que aquilo que se conquista pertence à você e o fato de ter parado de lecionar à grupos formais não quer dizer que eu tenha esquecido e adormecido minhas habilidades.
Então há muitos anos que amigos e ex-alunos me pedem para voltar à dar aulas e eu renegava, mais agora eu estou de volta ao ensino para um grupo seleto, e pretendemos expandir.
Para quem não sabe, eu tive uma escola de Wing Chun bem sucedida em Fortaleza, onde ministrei aulas para muitos alunos e até mesmo ex-alunos de outros professores de Wing Chun que me procuravam para aprender.
Então agora resolvi voltar à lecionar, pois como instrutor de Jeet Kune Do, as habilidades sempre estiveram latentes, uma vez que partes do Wing Chun estão inseridas no conteúdo do Jun Fan Gung Fu. Sendo que, originalmente, eu sou um praticante de Jeet Kune Do,antes mesmo de ter me tornado um professor de Wing Chun, eu havia parado com o JKD à pedido de meu Sifu de Wing Chun, logo minha experiência me ajudou à me diferenciar de muitos em JKD.
Então resolvi voltar, para mostrar um Wing Chun diferenciado, pois quando se tem experiência de combate em várias distâncias, a transmissão se torna diferenciada daqueles que focam apenas em teorias.
Estou buscando me reintegrar à comunidade Wing Chun ( WT ) e estou entrando para o curriculum de Hong Kong, onde passarei à fazer parte em breve como um representante.

4- Qual sua opinião sobre esse sistema de arte marcial ?

Sifu Edmárcio Rodrigues : Minha opinião é bem direta, muitos podem até não concordar, mais é um fato, acho Wing Chun uma arte magnifica, rica e sábia, portanto detesto quando à usam como solução universal e resolução para todos os problemas, isso eu não gosto, pois eu tenho experiência marcial real e já vi muitos praticantes se darem mal por ter este tipo de pensamento ou alienação. Creio que se você possui experiência de combate ( falo de combate porque Wing Chun foi feito para se defender e não apenas para ajudar na mente ), ai sim, você poderá estudar o Wing Chun para se desvencilhar das estratégias das outras artes marciais.
As pessoas que praticam, escutam que Wing Chun é simples e direto, e acabam por procurar a arte de uma forma errada, achando que é uma mágica ou que em curto período serão mestres, bem isso é um engano. Wing Chun só se torna simples quando você aprende, e isso leva anos e anos de estudo e análise da arte e situações de tempo, espaço e energia, requer análise e o que chamo de laboratório.
Wing Chun não foi feito para “ GAME ”, ou lutas de Vale Tudo ou MMA e eu explico porque, o ambiente é outro, a atmosfera é outra e as ferramentas são outras, você pode até usar alguns conceitos, mais sempre vai acabar caindo na regra do “ GAME ”, basta ver por ai que muitos que se diziam expoentes da arte se deram mal ao tentar entrar para este jogo, e ainda mais ao tentar usar as mesmas ferramentas dos oponentes que estão acostumados com o “ GAME ”.
Na minha opinião, Wing Chun é uma ‘ ratoeira ’, você deve ‘ atrair o rato para a isca ’, você deve ser um ‘ imã ’, deixar o opoente entrar e fazer a ponte para você agir, ou esperar para dar o bote certo, pois Wing Chun é para aniquilar as bases do oponente usando de golpes de encontro, interceptações, bloqueios e golpes contundentes, essa é minha visão, então muitos quando forem se aventurar podem se frustar por descobrirem que mesmo após anos e anos de sua prática marcial de Wing Chun ( independente de linhagem ), não conseguem barrar um “ Grappler ” ou um lutador de Kickboxing, pois viviam apenas no mundo teórico da arte.
Logo, atesto que Wing Chun é uma grandiosa ferramenta que proporciona golpes contundentes, desvencilhamentos, estratégias e ciência. Eu mesmo tive muitos êxitos usando Wing Chun contra oponentes de outras artes marciais, mas isso porque entendi e descobri isso que acabei de falar.

5- O que motivou a sua volta ao ensino do Wing Chun após um bom tempo afastado ?

Sifu Edmárcio Rodrigues : O que me motivou foi a insistência meus alunos, e o fato de eu saber que posso oferecer algo diferente e mais dinâmico devido à minha experiência, deixando de lado o misticismo, contos e lendas e aprofundando na sua ciência e didática antiga de transmissão.

6- Rumores dão conta que você andou falando mal do Wing Chun anteriormente. Isso seria verdade e você poderia nos explicar porque? Ou se teve alguns motivos para isso ?

Sifu Edmárcio Rodrigues : Olha, a verdade é que eu andei falando de praticantes e não da arte em si, toda arte se torna um mal quando a mente é obcecada por ela, e vi e conheço muitos obcecados, que não conseguem pensar fora da caixa, logo querem ser o máximo de Wing Chun, sem conhecer a realidade dos fatos, brigam por linhagem, histórias, lendas e criam contos que não existem para ganhar seu público, então realmente falei de tais comportamentos, aliás sempre serei contra isso.
Também por tudo o que passei, percebi a total alienação e o mercantilismo que existem nessa arte, aliás em todos setores, mas em Wing Chun vi muito, vi pessoas sem habilidades alguma se tornarem Sifu ou mestres apenas por pagarem um certificado, e vi também muitos venderem certificados por ai. É isso que acho!

7- Você é um instrutor de Jun Fan Gung Fu, Jeet Kune Do e artes Filipinas, além de faixa preta de Luta Livre, onde o Wing Chun se encaixa nisso?

Sifu Edmárcio Rodrigues : Wing Chun é uma ferramenta, não importa se você pratica ou investiga outros métodos, eu acredito e fui treinado para entender conexões, e muitos conceitos se agrupam e se encaixam, então nada importa você fazer Wing Chun e também outras artes marciais.
Eu posso até falar para você e provar que em JKD, Kali e Wing Chun contém conceitos iguais e idênticos, e posso comentar que na Luta Livre eu consegui perceber que a prática do Chi Sao ( prática característica do sistema Wing Chun ) melhorou meus reflexos e relaxamento, então muitas pessoas perguntam se eu faço e aprendi tudo isso, e eu respondo que cada um tem os seus próprios gostos e preferências, se você gosta apenas de banana, já eu gosto de banana, manga, mamão e melancia, rsrsrs.
Eu quero e tento dizer que não tenho nada contra se você bebe apenas de uma fonte, já eu não, eu bebo de várias fontes e sempre vejo as mesmas substâncias. Depende de como você olha o todo, então eu não misturo as artes, cada uma possui seu curriculum e conteúdo programático, e assim vou crescendo como artista marcial e estudioso.

8- Mas se já existem conteúdos especificos do Wing Chun inseridos na grade curricular do Jeet Kune Do porque voltar ao ensino desse sistema em particular ?

Sifu Edmárcio Rodrigues : É verdade, existe um conteúdo programático dentro do Jun Fan Gung Fu, mas posso continuar seguindo com o Wing Chun que contém outros elementos que não foram abordados no conteúdo do Wing Chun inserido no Jun Fan Gung Fu. Além de que JKD não contém apenas Wing Chun, e sim Boxe, Kickboxing, técnicas de submissão e quedas. Então eu posso explorar apenas Wing Chun da forma que fui ensinado e ensinar para aqueles que amam esta arte.

9- O que você quer dizer com Wing Chun método pratico ? Uma vez que esse sistema de arte marcial chinesa sempre foi conhecido por sua simplicidade e aplicabilidade ?

Sifu Edmárcio Rodrigues : Bem, quero dizer que é minha forma de ensinar baseado nas experiências vividas, excluindo sempre o lado desnecessário, e colocando a teoria em prática, se o que se diz não funciona e não pode aplicar eu descarto, e ensino meus alunos à sobreviverem contra investidas reais de ataque como já citei antes, não apenas de ataques de leigos, mais de pessoas que possuem experiência com artes marciais, então eu ensino como aplicar as formas e os conceitos, por isso chamo método prático. Além de que ensino sem mistérios!

10- Como ficam agora os ensinamentos dos demais métodos de sua escola, tais como o Jun Fan Gung Fu, Jeet Kune Do, artes marciais Filipinas, Luta Livre, Shoot, etc ?

Sifu Edmárcio Rodrigues : Os ensinamentos continuam os mesmos, como sempre foi, cada disciplina na sua hora e no seu dia, cada uma faz você descobrir um mundo e acoplar à sua experiência, logo você pode optar por apenas uma modalidade, sem problema algum.
Eu tenho deixado a Luta Livre e Shoot com meus estudantes mais experientes em luta e combates de MMA, como Anderson Sato e Fernando Germano, eles estão à frente da Luta Livre, eu apenas administro a melhor forma para eles seguirem adiante.
Estou concentrado no Wing Chun, Jun Fan e Kali, e tenho inserido o Kali em lições e curso para policiais, militares e profissionais da área de segurança, na qual sou inserido, pois tenho formação de Guarda Costa ou Segurança Pessoal Privada.
Neste ano de 2017 começo uma grande parceria com Instrutores da Inosanto Academy para juntos ensinarmos no Brasil e de forma aprofundada, o curriculum Jun Fan JKD, além de apenas seminários supérfluos como os que temos visto por aí, sem aprofundamento e transmissão da arte.
Este ano que se inicia teremos muitas novidades, agradeço a atenção por me conceder esta simples entrevista, e assim poder ajudar aqueles que se iniciam nas artes marciais que me proponho à ensinar.
Muito obrigado feliz ano novo à todos!

Sifu Edmárcio Rodrigues

sábado, 17 de dezembro de 2016

EFC PE promete agitar o calendário do MMA no Nordeste em 2017



Uma nova organização de lutas promete inovar e fazer a diferença na carreira dos atletas da comunidade das artes marciais mistas e demais esportes de contato no estado de Pernambuco.

Trata-se do Extreme Fighting Championship Pernambuco, ou simplesmente EFC PE.
O show nasceu da união dos sonhos dos promotores André Ben e mestre Eduardo Moraes.

O trabalho do Extreme Fighting Championship Pernambuco ( EFC PE ) tem por objetivo melhorar o cartel dos atletas do Nordeste e deixá-los mais à vontade nos grandes shows de lutas com a experiência adquirida.

A organização promete um maior apoio aos lutadores graças à uma parceria com uma seguradora que deverá garantir uma indenização em caso de acidentes que retirem os atletas de atividades por mais de 90 dias.

Além de premiações em dinheiro o EFC PE contará também com um cinturão exclusivo, feito sob medida em alto relevo.
As modalidades constarão de Boxe, Kickboxing, Muay Thai e MMA. As lutas serão disputadas no tradicional ringue de cordas, pois os organizadores buscam um formato diferenciado para abordar todos estes esportes em conjunto e além de aumentar o intercâmbio entre os atletas, ainda há a intenção de incrementar o ‘ network ’ de todos os treinadores de Pernambuco, suprindo assim a ausência de competições no estado.

Além de tudo isso, o EFC PE também irá ajudar creches, escolas e orfanatos, aliando assim a preocupação do evento com os menos favorecidos e trabalhando também a modalidade ” MMA como ferramenta de inclusão social “.

Acompanhe abaixo o calendário já definido pela organização, uma vez que o EFC PE promete chegar com muita força à Pernambuco e poderá até mesmo fazer com que o estado recupere o ‘ status ’ de “ Capital do MMA no Nordeste ”.

Estas são as cidades que irão abrigar as edições do EFC PE à partir de Janeiro de 2017 :

Gravatá : 21 de Janeiro
Chá Grande : 11 de Fevereiro
Amaraji : 11 de Março
Pombos : 8 de Abril
Escada : 13 de Maio
Cabo de Santo Agostinho : 10 de Junho
Glória de Goita : 15 de Julho
Chá de Alegria : 12 de Agosto
Limoeiro : 16 de Setembro
Buenos Aires : 14 de Outubro.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Família Zenidim participou de competição de boxe objetivando o MMA



Para melhor preparação para as lutas de MMA, quando não estão em ação nessa modalidade, a única família de lutadores de MMA que temos notícia hoje em dia, permanece em ação no muay thai, quedas, jiu jitsu e boxe.

Foi com esse intuito que a família Zenidim participou da Taça Osmar Dias com lutas de boxe e muay thai, realizada dia 26 de Novembro na academia Thai Boxe, em Curitiba, capital do Paraná.

Destaque para os filhos mais jovens de Paulão Bueno, Raykon “ The Last ” ( 8 anos ) e Riran “ Taz ” ( 14 anos ) que treinaram o Ram Muay Zenidim com seu pai e seus irmãos para apresentar na Taça Osmar Dias, mas que não se limitaram à apresentações e literalmente “ saíram na mão em lutas de apresentação de muay thai infantil.

O pequeno Raykon “ The Last ” teve pela frente Kaleo, um talento precoce da Chute Boxe enquanto Riran “ Taz ” encarou Pedro Henrique, também da Chute Boxe.

Rickson “ The King ” Zenidim Bueno, com apenas 17 anos de idade e que permanece invicto no MMA com 7 lutas na carreira, participou em luta de boxe com um atleta mais pesado, Weslei Silva, da Chute Boxe.
O combate foi polêmico, com Rickson demonstrando um volume maior de ataques e acuando o seu duro adversário, durante os três rounds. Mesmo dando um show de boxe, os árbitros da federação de boxe decidiram pela vitória do lutador local.

Raniere “ Rex ” que estreou profissionalmente no MMA aos 15 anos de idade, é o lutador mais jovem à levantar uma bandeira nacional em outro país. Mas já soma cartel de veterano, com 26 lutas, sendo 17 vitórias, 14 delas por finalização ( quase todas no primeiro round ).
O finalizador mais jovem do MMA representou a família Zenidim em luta de boxe com Daniel “ Fifo ”, um duro pugilista da Immortal Fight Team, equipe da cidade de Curitiba.
Raniere levantou o público presente só perdendo em decisão dividida dos jurados.

O grande campeão Paulão Bueno, maior nome do MMA de Ponta Grossa e conhecido pela alcunha de “ O Imperador dos Campos Gerais ” também deu show de Boxe, à exemplo de seus filhos, e enfrentou um lutador quase 20 anos mais jovem, Leonardo Silva, campeão da Thai Boxe de Curitiba.
Paulão, mesmo aos 40 anos, demonstrou enorme vigor físico e a experiência de muitos anos na chamada nobre arte, nesse seu retorno à modalidade. A luta era amistosa e buscava homenagear o saudoso mestre Osmar Dias ( à exemplo de todo o “ Card ” ) terminando em empate. Paulão voltará à competir no MMA em 2017.

– “ A família Zenidim está muito feliz com todos os resultados, pois a meta do clã não é seguir carreira no boxe, muay thai ou outras artes marciais e sim preparar os campeões da família para chegarem ao topo dos maiores eventos de MMA do mudo.
Obrigado à todos os promotores e adversários por fazerem parte dessa evolução. Oss. ”
Paulão Bueno.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Artigo : como surgiu a WME-IMG, conglomerado dos novos donos do UFC



A grande maioria dos leitores já sabe que o UFC foi recentemente vendido por US$ 4 bilhões. Contudo, poucos aqui no Brasil conseguem traçar um perfil mais detalhado da WME-IMG, agência que representa o braço norte-americano do conglomerado formado pelos novos donos do evento.

Para ajudar o amante do MMA nessa missão, resolvemos buscar as raízes da empresa e para isso voltamos no tempo ao final do Século 19, quando o imigrante alemão Zelman Moses, que depois mudou o seu nome para Willian Morris, encontrou o sucesso como um agente de reserva nos atos de vaudeville.

A lista dos artistas representados por sua agência se confunde com a história do entretenimento dos Estados Unidos. Charlie Chaplin, George Burns, Will Rogers, os irmãos Marx, Mae West e Elvis Presley eram todos clientes da Willian Morris Agency.

Já no inicio deste Século 21, a Willian Morris Agency passou à se chamar Willian Morris Endeavor e ao juntar-se à proeminente agência esportiva International Management Group tornou-se WME-IMG. Na ocasião já representava atores, atletas e músicos, logicamente, mas passou à aumentar ainda mais o seu leque de opções, que já incluía ( também ) o concurso Miss Universo, que foi comprado do ex-cliente e atual presidente eleito dos EUA Donald Trump.

Nesse período a agência já negociava ofertas de televisão para o futebol Europeu e ligas de críquete indiano, além de contar com conexões na WWE ( Pro Wrestling ) e NFL ( futebol americano ), passando então à vislumbrar novas possibilidades de crescimento ao ter o domínio de um determinado segmento esportivo.

Após o sucesso de alguns de seus clientes em grandes produções cinematográficas de Hollywood, a WME-IMG comprou ( já em 2015 ) a Professional Bull Rinding Ing., conhecida no Brasil como PBR, e marca “ top de linha ” dos rodeios ( esporte profissional de montaria em touros ).

Em 2016 foi a vez da WME-IMG comprar o UFC e desde então a história é conhecida.

A experiência e história de sucesso da WME-IMG nos mostra que o grupo não veio para brincar e o mesmo poderá impulsionar o UFC ao “ mainstream ”.
O co-CEO da WME-IMG Ari Emanuel ( irmão do prefeito de Chicago, Rahm Emanuel ) já anunciou que o UFC Fight Pass passará por mudanças em breve, com mais conteúdo voltado ao mundo fora das lutas, com os lutadores da franquia protagonizando outros programas de entretenimento, tais como “ talk shows ” e mesmo filmes, tornando-se famosos – também – em outros tipos de atividades fora do octógono.

Por falar em famosos, uma vez que alguns destes são amantes do MMA de longa data e enquanto clientes da WME-IMG tiveram a oportunidade de adquirir uma pequena participação acionária no UFC, se tornaram os mais novos investidores da franquia.

Gente do porte de Abel Tesfaye, Adam Levine, Anthony Kiedis, Ben Affleck, Calvin Harris, Cam Newton, Conan O’Brien, Flea, Guy Fieri, Jimmy Kimmel, Li Na, LL COOL J, Maria Sharapova, Mark Wahlberg, Michael Bay, Rob Dyrdek, Robert Kraft, ( as irmãs ) Serena e Venus Willians, Tyler Perry, Trey Parker, Tom Brady ( marido de Gisele Bündchen ) e até mesmo Sylvester Stallone.

Espera-se que, com a adesão de tantas celebridades , as últimas resistências e preconceitos com relação ao MMA “ caiam por terra ”.

N.E.: Na foto que ilustra este artigo, Ari Emanuel, co-CEO da WME-IMG aparece ao lado do astro do cinema, Jet Li ( de boné ).

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Associações de lutadores poderão ‘ mudar a cara ’ do esporte MMA ?



Na última quarta-feira, 30 de Novembro, foi feito o tão alardeado anúncio por grandes nomes do MMA, cuja promessa era revolucionar a modalidade. No inicio da noite foi então anunciada a criação da Associação de Atletas de Artes Marciais Mistas ( The MMAAA ), que visa – obviamente – proporcionar melhores condições para os atletas.

A Mixed Martial Arts Athletes Association ( The MMAAA ) , na sigla em inglês, tem dentre algumas de suas principais exigências : planos de saúde para cobrir lesões que os atletas sofrem após as lutas e uma repartição mais justa dos lucros do UFC junto aos lutadores. Segundo os próprios, os atletas recebem apenas 8% do que o Ultimate leva ( 92% ), e eles brigam para esse número se tornar 50%.

Georges St-Pierre, ex-campeão dos meio-médios ( 77 kg ) que não compete desde 2013, Cain Velasquez e TJ Dillashw, ex-campeões dos pesados e galos ( 61 kg ), Tim Kennedy e Donald Cerrone foram os atletas e veteranos do esporte que, juntos, deram rosto à nova entidade e convidaram todos os demais lutadores à fazerem parte da Associação que contará com o suporte de Bjorn Rebney, ex-CEO do Bellator, que foi afastado do evento em 2014, na ocasião de sua substituição por Scott Coker.

Interessante notar que eles não estão buscando sindicalizar os lutadores, o que poderia levar anos, já que provavelmente haveria litígio em torno do atual status de contrato independente dos lutadores do UFC e somente funcionários podem se sindicalizar.

Por outro lado, quatro dos cinco lutadores são representados por Mike Fonseca, da Creative Artists Agency. A CAA é o maior rival do conglomerado formado pela WME-IMG, que são novos proprietários do UFC.

Bjorn Rebney comentou ainda que a nova associação ( The MMAAA ) é algo semelhante à associações de ligas esportivas como a NFL e NHL e pede ainda a inclusão de uma CBA nos moldes de tais ligas. ( Uma ‘ collective bargaining agreement ’ nada mais é do que a possibilidade de negociar mudanças contratuais para todos lutadores de uma vez só ).

Radical, Bjorn afirmou ainda que se continuar no atual modelo de gestão ( com os promotores ganhando muito e repassando pouco aos atletas ), o MMA não irá durar mais do que 10 anos e ainda convocou os lutadores para uma greve.

Tudo isso não poderia vir em pior hora para o conglomerado formado pela WME-IMG , pois os novos proprietários do UFC têm de realizar um retorno sobre o investimento de quatro bilhões de dólares, além do processo ‘ anti-trust ’ que o UFC está enfrentando desde antes de sua venda.

Por sua vez, o UFC já respondeu à Rebney e insinuou que o mesmo está agindo por vingança e ainda que a CAA seria o financiador da nova associação ( The MMAAA ). O cartola nega veemente.

Assim, o esporte agora tem pelo menos três esforços de organização em andamento : MMAFA, PFA e MMAAA.

O MMAFA de Robert Maysey deseja estender o Muhammad Ali Act ao MMA, de modo que os lutadores possam ser contratados independentes, e os promotores teriam que ‘ lutar ’ uns contra os outros pelo direito de colocar lutas pelo título. O MMAFA também está comprometido com o processo ‘ anti-trust ’ contra o UFC.

O PFA de Jeff Borris quer sindicalizar o UFC, o que exigirá que eles sejam classificados como funcionários.

O MMAAA de Bjorn Rebney quer formar uma associação de lutadores para exigir um aumento salarial. Os lutadores merecem e precisam de organização e representação inteligente e agressiva. Felizmente, algo de bom poderá sair de tudo isso.

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Artigo : Donald Trump, russos e MMA.



Ao contrário do que indicavam as pesquisas de intenção de votos, o republicano Donald Trump acabou conquistando 276 votos dos delegados do colégio eleitoral, passando por sua adversária Hillary Clinton. Durante a campanha, ambos transformaram o processo político americano em um teatro promocional que algumas vezes chegava a lembrar àquele protagonizado pelos astros do Pro Wrestling. Trump não é um estranho ao Pro Wrestling, uma vez que já se ‘apresentou’ durante o Wrestlemania XXIII em 2007, quando ‘fingiu lutar’ com Vince McMahon, mandatário do WWE (World Wrestling Entertainment).

De fato, as comunidades das artes marciais e esportes de contato em geral conhecem bem Donald Trump; e a ligação deste, com tais esportes é de longa data.

Foi ele quem - décadas atrás - transformou Atlantic City em uma nova ‘Meca’ para o Boxe, ao lado das já consagradas Las Vegas e New York. Com a saída de cena de seus amigos Mike Tyson e Don King, o magnata passou a sentir fascínio por um outro esporte, bem mais selvagem e por vezes, sangrento: o MMA. A modalidade era constantemente classificada pela mídia não - especializada como vulgar, brutal e politicamente incorreto, mas Trump já demonstrava apreciar a brutalidade do esporte que horrorizava os outros.

Ele não questionou em hospedar o Ultimate Fighting Championship (UFC) para várias edições em seu hotel-cassino Trump Taj Mahal em Atlantic City, e ainda ajudou os organizadores da competição na aquisição da Continental Airlines Arena em East Rutherford, também em New Jersey.

Trump já havia enxergado o potencial do novo esporte e posteriormente tornou-se o principal acionista em outra promoção de MMA denominada Affliction e promovida em parceria com uma empresa de vestuário de mesmo nome. Na época, seu filho, Donald Trump Jr. declarou em entrevista à revista Men´s Fitness que seu pai emprestou o nome para o empreendimento e investiu muito dinheiro na empresa. Foi a partir daí que começaram a surgir as histórias da amizade do bilionário com os russos ricos ou proeminentes.

Um dos empreendedores do Affliction era Vadim Finkelchtein, que negociou para que o evento fosse transmitido pelo canal de televisão estatal russo e que também investiu US$1 milhão para abrir lojas Affliction, em Moscou.

Finkelchtein também era presidente da M-1 Global (maior organização de MMA da Rússia) e esteve por diversas ocasiões em conferências de imprensa no Trump Tower ao lado de seu atleta e que acabaria se tornando a maior estrela do Affliction: Fedor Emelianenko, conhecido pela alcunha de ‘o último imperador russo’. Não por acaso, Fedor é - ainda hoje - amigo pessoal do presidente da Rússia, Vladimir Putin, outro fã ardoroso e grande incentivador do MMA. Trump chegou a anunciar que realizaria um reality show de MMA naquele país.

O fato foi utilizado pela Democrata Hillary Clinton durante a sua campanha para atacar Trump como parte dos ‘interesses empresariais não revelados’ de seu adversário na Rússia. Os partidários da ex-secretária de Estado e ex-senadora chegaram até mesmo a afirmar que ‘a mão do Kremlin estava no centro da campanha de Trump’.

Somou-se à isso a mística de que foi Fedor quem havia conectado Trump com Putin, mas é bom lembrar que não há evidências desse encontro e oficialmente, Trump e Putin deverão se reunir pela primeira vez antes da posse do Republicano como presidente dos EUA. A posse do novo presidente se dará dia 20 de Janeiro.

Apesar de todas as polêmicas que o cercaram durante a sua campanha, Donald Trump permanece como um herói no mundo do MMA e reverenciado por seu apoio ao esporte há mais de 15 anos. Inclusive, o salão da fama das artes marciais do estado de New Jersey lista Trump em seu site como um indicado. Ao lado do nome de Trump há uma única palavra: ‘visionário’.

terça-feira, 22 de novembro de 2016

Pancrase promove lutas de MMA ao ar livre em parceria com o D1GP



Com o surgimento do Rizin - evento classificado pela mídia especializada ao redor do mundo como o novo Pride - o MMA japonês recupera o fôlego e inicia nova tentativa de reconquistar a posição que ocupava anteriormente.
Nessa nova empreitada, a inovação é considerada parte da estratégia, além de um bom investimento para o futuro.
A promoção de lutas junto aos shows de outras modalidades esportivas é um expediente que começa à ser utilizado - também - por algumas franquias de MMA na terra do sol nascente.

“ Lutas excitantes ” e “ esporte extremo ” sempre foram sinônimos de MMA e muitos japoneses tiveram a oportunidade de prestigiar à um espetáculo inusitado em um ensolarado Domingo de Outubro ( 23/10 ) quando a organização Pancrase promoveu um show da modalidade ao ar livre ( perto da entrada do ginásio ) durante o D1 Grand Prix - 2016 Auto Salon Live Tokyo - “ Tokyo Drift ” ( uma série de competições semi - nacionais de automobilismo autorizada pelo JAF ) quando centenas de pessoas assistiram às lutas.

A organização informou que metade do público assistiu à um MMA bem próximo ao “ Cage ” pela primeira vez.

O evento D1GP ( Drift-1 Grand Prix ) do Pancrase contou com um torneio eliminatório de 4 lutadores sob as regras atuais do Pancrase, que não custa lembrar, seguem o formato das regras profissionais unificadas de MMA, diferentemente dos primórdios da organização.

O show D1GP ( perto da entrada ) contribuiu ainda mais para a massificação do esporte MMA no Japão, a capital mundial das artes marciais e esportes de combates.

Confira os resultados do D1GP ( Drift-1 Grand Prix ) do Pancrase :

4ª luta ( Light-Weight: 5min x 2R )
Son Jon Min ( PARAESTRA TOKYO ) VS Ryuhei Fujita ( RISING SUN )
Son Jon Min venceu por 3-0 / Decisão.

3ª luta ( Bantam-Weight: 5min x 2R )
Keisuke Ohtani ( PANCRASEism Yokohama ) VS Atsuaki Yamamoto ( PARAESTRA Chiba )
Yamamoto venceu por TKO em 1R 2'59 ".

2ª luta ( Feather-Weight: 5min x 2R )
Shawn Mizoguchi ( KRAZY BEE ) VS HIroshi Shiragami ( Ashikaga Kakuto-gi Kyoshitsu )
Mizoguchi venceu por TKO no 1R.

1ª luta ( Light-Weight:5min x 2R )
Son Jon Min ( PARAESTRA TOKYO ) VS Takuma Uchiyama ( CAVE )
Uchiyama venceu por 2-0 / Decisão.

Para maiores informações sobre os próximos shows do Pancrase, favor acessar :
http://jmmaf.org/?p=2478


quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Maceió Fighting Championship chega à 21ª edição




Maior e mais tradicional evento de luta do estado, antes chamado de Circuito Point Radical e Tchuck Jhones de Muay Thai e Vale Tudo, o Maceió Fighting Championship ( MFC ) é um evento de artes marciais que hoje acontece duas vezes ao ano na Cidade de Maceió, capital do estado de Alagoas.

O MFC teve seu inicio em 2002 quando foi idealizado por Marcelo Farias, o qual é promotor do evento até os dias de hoje. Marcelo conta com uma equipe de profissionais que auxiliam no planejamento, organização e estrutura do evento.

O show surgiu com o objetivo de introduzir o esporte de lutas na agenda de entretenimento de Maceió e como plataforma de divulgação para os atletas alagoanos já revelou novos talentos além de aprimorar lutadores com vistas à projetá-los nacionalmente além de sedimentar as suas carreiras como profissionais.

Sem esquecer o lado da inclusão social, o evento sempre buscou a conscientização de que luta não é violência e sim esporte,sempre incentivando a cidadania e o respeito ao próximo.

Agora o Maceió Fighting Championship chega à sua 21 ª edição que será realizada dia 12 de Novembro.

O evento será realizado no Ginásio do Colégio Santíssimo Senhor, localizado na Rua Gérson Lopes, n° 246 ( Bairro serraria ), Maceió, Alagoas.

As lutas serão distribuídas nas modalidades de Muay Thai e MMA. O “ Card ” completo poderá ser conferido abaixo.

OBS .: Seguem os nomes dos lutadores e em seguida, suas respectivas equipes ( na ordem ).

Maiores informações : ( 82 ) 88153629 e ( 82 ) 98385370.

MUAYTHAI

1 ª luta : GILMAR OLIVEIRA VS PEDRO SILVA (SIAM FIGHT/AL) (THAMIR PEREIRA MUAYTHAI)

2 ª luta : RAFAEL SILVESTRE VS OTÁVIO SOUZA “BARATA” (TITÃS/AL) (SHOCK FIGHT TEAM/AL)

3 ª luta : ALESSANDRO ITÁLO VS MOREIA MESQUITA (MÃOZINHA/AL) (FIRE TEAM/AL)

4 ª luta : MAYKY MENDES VS EDUARDO FREITAS ‘DIMENOR” (DONOSTI/AL) (SHOCK FIGHT TEAM/AL)

MMA

1 ª luta : DAVID SILVA VS WELTON FINO ( TITÃS GRACIE BARRA/AL (CARLOS OLIVEIRA SHOCK FIGHT/AL)

2 ª luta : BRENO OLIVEIRA VS VALMIR SILVA (ADOIS FIGHT/AL) (SHOCK FIGHT TEAM/AL)

3 ª luta : ELVIS ALVES VS RONISSON JACARÉ (MCM/AL) (CARLOS OLIVEIRA SHOCK FIGHT /AL)

4 ª luta : KLEYTON ALVES VS HENRIQUE OGRINHO (DONOSTI DFC/AL) (KIMURA/AL)

5 ª luta : RANGEL SPIDER VS ALAN PITBULL (TRIBO MUAYTHAI/SE) (FIRE TEAM RGK/AL)

6 ª luta : PAULINHO DE GARANHUS VS OTÁVIO BESOURO (CHAMPIONS/PE) (SHOCK FIGHT PITBULL BROTHERS/AL)

Artigo : o “ cage fighting ” é banido oficialmente na França



Um dos assuntos mais debatidos nos bastidores do MMA ( Mixed Martial Arts ) nessa semana diz respeito ao decreto que oficializou o banimento dessa modalidade esportiva na França.

O título de alguns artigos referentes à esse assunto é tecnicamente correto, mas enganoso em um outro sentido, pois algumas competições de modalidades esportivas de natureza híbrida ( composto por lutas de contato em pé e no solo ) continuarão à existir em solo francês.

Até porquê, de acordo com o comunicado que foi distribuído para a imprensa pelo governo e intitulado de “ Decreto relativo à regulamentos técnicos e segurança para eventos de esportes de combate ” demonstra a preocupação dos legisladores franceses em regulamentar o esporte, bem como a realização de seus futuros shows e fica claro, então, que os mesmos não querem inibir a promoção de lutas em seu país, apenas torná-las mais seguras.

Podem ser classificadas entre estas o Pancrase ( tanto o antigo “ Pancrase japonês ”, ou seja, uma espécie de MMA com golpes de mãos abertas no rosto, quanto o “ Pancrase Francês ”, cuja principal característica são os golpes traumáticos em pé e apenas a parte “ agarrada ” quando no chão ), o “ Free Fight ” ( regras semelhantes às do exemplo anterior, apenas com a limitação de 30 segundos para a luta no solo ), o Shoot Wrestling ( as mesmas do antigo USWF ), o ” Combat Libre ” e o Kempo.

Estas modalidades estão “ OK ” e os políticos não estão preocupados com a sua promoção, pois as mesmas se enquadram nestas novas regras de esportes de combate que foram anunciadas pelo Ministério dos Esportes daquele país europeu.

Aliás, Patrick Kanner, Ministro Francês dos Esportes e Thierry Braillard, Secretário de Estado dos Esportes francês, legitimaram as modalidades citadas acima com o novo decreto. Vejamos :

” Socos, chutes ou golpes com o joelho contra um lutador que esteja no chão não estão permitidos. Assim como qualquer tipo de cotovelada, cabeçada, golpes nos órgãos genitais, na nuca ou na garganta. Colocar o dedo nos olhos, na boca ou no nariz também é considerado proibido. ”

Portanto cabe aqui uma explicação : as competições de luta na “ gaiola ” ( cages e octógonos ) é que foram banidas na França e não todas aquelas no estilo do MMA.

“Lutas acontecerão em um tablado ou ringue com três ou quatro cordas. Os córneres do ringue serão protegidos”, diz o comunicado.

Boa parte do atual panorama político direcionado aos esportes na França se deve à Federação Francesa de Judô, que graças ao seu poderoso “ Lobby ” travou uma verdadeira batalha pelo bem da ” arte marcial pura ” . A citada entidade chegou à anunciar anteriormente que iria criar uma nova modalidade que se chamaria JMA ( a mesma consistiria de uma mescla golpes de Boxe, Wrestling – estilos Livre e Greco Romano – e claro Judô ) , com vistas à manter os judocas franceses afastados das competições de MMA realizadas pelo mundo.

Os próprios atletas franceses comentam que a Federação Francesa de Judô é que dita as regras de esporte de combate e do ” Combat Libre “, ou MMA (sim, a tradução seria mesmo Luta Livre, mas é como o pessoal das antigas se refere ao MMA por lá ).

Em contrapartida, eventos de esportes como o Boxe, Kickboxing, Muay Thai ( em sua versão tailandesa ) e Pro Wrestling cujo histórico de casos de Encefalopatía Traumática Crónica (ETC) é superior ao MMA, continuarão à ser realizados sem a interferência dos legisladores.

Bertrand Amoussou, presidente da CFMMA (Confederação Francesa de MMA), reagiu ao comunicado do governo e garantiu que tomará as medidas possíveis para tentar derrubar as sanções. O problema para ele é que seu órgão não é reconhecido pelo Ministério.

“ É incrivelmente desrespeitoso. O Ministério nos tratou como idiotas. Todos os países reconheceram o MMA na Europa, exceto França e Noruega. Eu esperava que isso não precisasse acontecer, mas a CFMMA vai entrar com uma ação legal para contestar esse decreto ”, garantiu Amoussou ao site L’Express.

Em comunicado a CFMMA informou ainda que, se preciso, vai procurar François Hollande, Presidente da República Francesa e o mais alto cargo do poder executivo na França para lutar contra essa proibição.

N.E .: Aproveitando que o tema da “ proibição ” foi levantado, vou tentar “ atualizar ” alguns jornalistas brasileiros da mídia não-especializada em MMA. Para a infelicidade destes, a proibição ao MMA “ caiu ” na Tailândia e as competições já voltaram à ser realizadas naquele país Asiático. Inclusive, no dia 27 de Maio, ONE Championship, o maior show de MMA da Ásia promoveu uma competição na Tailândia e já há uma outra etapa programada pela franquia para o dia 17 de Dezembro e que terá lugar novamente em Bangkok, capital daquele país.

P.S .: Confira uma luta de Valentijin Overeem sob as regras do “ Pancrase Francês ”. Essa é a modalidade que continuará à ser promovida na França, de acordo com a nova legislação do país.

PFC 5 - Konstantin GLUHOV vs Valentijn OVEREEM
https://www.youtube.com/watch?v=n7BPPdVtzws


segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Conheça o Double Fighting, o MMA de duplas



Convido vocês a fazer um exercício de imaginação. Imaginem em um mesmo Cage de MMA, quatro atletas. De um lado, temos Anderson Silva e Lyoto Machida e, do outro, Wanderlei Silva e Maurício Shogun. Agora imaginem que estes formam duplas e, que, ao mesmo, tempo vão sair na porrada para ver qual dupla é a vencedora. Loucura não. A princípio, pode parecer loucura, mas o Double Fighting, evento de MMA em duplas, tem esta proposta e seu fundador e criador, Carlos Nacli, garante que o evento é mais legal e seguro que o UFC.

Carlos nos conta que a ideia nasceu da necessidade de inovar em um mercado monopolizado pelo UFC. “Acompanho o MMA desde os anos 90 e em meus estudos vi que o mercado, como um todo, cresceu muito, mas que os players e eventos aqui no Brasil continuavam com as mesmas dificuldades do início. E encontrei algumas razões para isso, como: eventos nacionais servem de escada, dificuldade de patrocínios e modelo defasado. Ao constatar esta realidade, a única alternativa que encontrei foi inovar. Por que não colocar 2 contra 2? Esta pergunta demorou alguns meses para ser aceita, pois, sabia que tinha que criar regras e dinâmicas que dessem segurança aos lutadores. Com base nisto criei um evento com os seguintes diferenciais: pesagem no dia da luta, fim da pontuação round a round, possibilidade de em uma única luta termos 3 K.O, e mais de uma finalização; nunca fica 2 contra 1, é proibido qualquer tipo de golpe covarde e temos 2 árbitros dentro do cage. Em 2014 realizamos uma luta piloto para testar a ideia, e foi um sucesso. Já em 2015, realizamos o primeiro evento aberto ao público com 8 entre as melhores academias do Brasil. Agora, em 2016, estamos lançando novos modelos de negócios. Além do Double Fighting estamos criando uma Liga de MMA tradicional com algumas alterações exclusivas para dar mais emoção ao esporte. Para isso estamos vendendo franquias e realizando parcerias com outros eventos pelo Brasil. Aos interessados em Double Fighting estamos ofertando aos demais promotores de eventos do Brasil a contratação de uma luta de Double para ser colocada no seu card. Caso goste do resultado avançamos a parceria. Aos interessados na Liga estamos selecionando potenciais franqueados nas principais regiões do Brasil. Nossa intenção é iniciar 2017 com pelo menos quatro regiões no Brasil: São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Nordeste”.

Com um planejamento ambicioso, Carlos acredita ter em mãos o único projeto de MMA capaz de fazer frente ao modelo do UFC. “Acredito que temos muito potencial de crescimento, o brasileiro inventou o MMA mas, não soube explorar o mercado como os americanos. Para isso, criei uma liga totalmente adaptada ao modelo americano de show e com diferenciais exclusivos que todos fãs de MMA vão adorar. Nossas dificuldades são relacionadas a cultura esportiva no Brasil, mas acredito que vamos superar isso com os parceiros certos.

Caso queira saber mais sobre esta matéria entre no facebook do evento: www.facebook.com.br/doublefighting e mande sua mensagem.

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Verdadeiro show de nocautes no Chico Mendes Fight II 2016 em Florianópolis – SC



A noite foi de festa para a galera da comunidade Chico Mendes com a realização do Chico Mendes Fight II 2016 em 07 de Outubro . O show foi um verdadeiro festival de nocautes e marcado pela estréia de novos talentos, além de do retorno de dois grandes profissionais às competições de MMA.

As lutas tiveram lugar na Arena Candiru, localizada na comunidade que empresta o nome ao evento, em Florianópolis, capital do estado de Santa Catarina.

O intuito de Mauricio “ Bad Boy ” Machado, idealizador do evento e consagrado lutador de MMA é levar o lado bom da comunidade Chico Mendes e mostrar que a mesma não é só violência, sendo também celeiro de promissores atletas, os quais só precisam de uma oportunidade.

Daí o projeto em dar continuidade às promoções da franquia, cujos shows podem se firmar no cenário nacional como uma oportunidade à mais para os lutadores.

Confira abaixo os resultados de todas as cinco lutas que compuseram o excelente “ Card ”.

Em seu retorno às competições, Elton “ predador ” Cruz, faixa roxa de jiu jitsu e membro da GFTeam Floripa – SC, venceu Amauri “ Maguila ” por nocaute, com 1 minuto e 30 segundos do primeiro round.

O estreante Denílson “ Soneca ” Ferreira, nova revelação na GFTeam Floripa e estreante no MMA profissional teve pela frente um atleta muito duro, já com 3 lutas de MMA profissional Lucas Santana, que foi nocauteado no primeiro round aos 4 minutos e 47 segundos de luta.

Mauri Maurinho Machado, também estreante da GFTeam Floripa, venceu o grande atleta que já tinha uma luta de MMA profissional Cleiton da Silva, por nocaute ainda no primeiro round, aos 1 minutos e 30 segundos de luta.

Na luta feminina da noite, a estreante no MMA profissional e grande promessa da GFTeam Floripa, Indianara “ Índia ” Machado nocauteou Kete Silva também no primeiro round com 1 minuto e 50 segundos.

Na principal luta da noite, válida pelo cinturão da categoria de peso 77 Kgs do evento Chico Mendes Fight 2 tivemos o retorno de Léo Augusto, líder da GFTeam Floripa, às competições de MMA profissional, após dois sem competir nessa modalidade.

Seu adversário, Montanha, já tinha um registro no Sherdog de 4 lutas de MMA profissional.

Contudo, o faixa preta de Jiu Jitsu Léo Augusto botou o “ Striker ” Montanha para baixo e finalizou seu adversário no braço com uma chave americana, passados apenas 30 segundos de luta, nessa que foi a única vitória por finalização da noite.


BangKoc Zen está de volta às atividades



Ponta Grossa, no estado do Paraná é a 3ª cidade no Brasil à criar o dia municipal do MMA, uma vez que a data foi instituída no calendário oficial daquele município da região dos Campos Gerais.

Muito desse reconhecimento se deve ao trabalho desenvolvido por Paulo “ O Imperador ” Bueno, um dos maiores nomes do esporte no Brasil.

Paulão sempre se preocupou em promover competições para fortalecer o esporte MMA, modalidade em que os brasileiros construíram um nome tão respeitado internacionalmente.

Agora, com o intuito de promover a estréia profissional de seus filhos , Raniere “ Rex ” e Rickson “ The King ” Zenidim Bueno – também – no Muay Thai, Paulão estará retomando a promoção de um famoso evento de Boxe Tailandês.

Trata-se do BangKoc Zen, criado por ele em 2004.

Raniere e Rickson são os mais jovens atletas profissionais de MMA do mundo e agora estarão lutando na regra tailandesa, uma vez que o BangKoc Zen promove combates do legítimo Muay Thai. O evento permite o uso de cotoveladas e cada luta é distribuída em 5 rounds de 3 minutos.

Em sua edição de estréia, o BangKoc Zen também contou com a disputa de lutas de Vale Tudo, como o MMA era chamado à época, mas o evento ficou marcado mesmo pelo primeiro desafio oficial entre as cidades de Ponta Grossa e Curitiba.

Aqui abro parênteses para lembrar um dado curioso. Para que Curitiba tivesse algumas das melhores escolas de Muay Thai do Brasil, Rudimar Fedrigo ( líder da equipe Chute Boxe ) sempre se preocupou em promover competições com grande freqüência. Nos idos de 1993 chegou à promover um evento por semana no Thai Gym, um ginásio só para lutas que existia na capital do Paraná.

De volta à edição de estréia do BangKoc Zen, em 2004, o evento foi abrilhantado pelas grandes lutas proporcionadas naquele desafio entre as equipes Zenidim e Thai Boxe, esta última capitaneada pelo saudoso Osmar Dias.

Hoje nome consagrado no esporte, Saulo Cavalari ( campeão do Glory, maior evento de trocação do mundo ), foi um dos atletas que estreou no BangKoc Zen contra o duro Rodrigo “ Dragão ” Guelke.

O lutador ” Dilo ” da lendária Thai Boxe, também esteve naquele “ Card ”, além do próprio Paulão “ O Imperador ” Bueno, que também lutou contra um atleta curitibano, na época do BangKoc Zen, realizado na Magic Sound, em Ponta Grossa.

Maior nome do Muay Thai Pontagrossense, Paulão já lutou em alguns dos maiores eventos da modalidade em vários países e construiu um cartel com mais de 100 lutas de boxe tailandês ( além de um registro no Sherdog com 22-8-1 em lutas de MMA ).

O BangKoc Zen será realizado em Dezembro e em breve nós disponibilizaremos mais informações.


segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Parceria entre EFN e Abu Dhabi Warriors FC promete impulsionar MMA e Muay Thai pelo mundo



Quando empreendedores decidem deixar de lado limitações geográficas, políticas, religiosas e culturais para por em prática seus planos de negócios, percebemos que ainda é possível interagir com o nosso semelhante independente de tais fatores e que, principalmente, ainda há espaço para a racionalidade e a positividade na vida do ser humano. Basta ter força de vontade.

Uma das melhores ferramentas para isso é o esporte.

A Elite Boxing é uma empresa promotora de lutas de Boxe que objetiva expandir seus domínios em todo o mundo e está desde 2010 investindo, também, no Muay Thai com o intuito de levá-lo ao próximo nível e torná-lo um esporte verdadeiramente popular em todos os cantos do planeta, promovendo confrontos em locais de luxo na Tailândia, além de alguns lugares sagrados, tais como templos daquele país asiático e mesmo outros países como a Austrália.

Com relação à Áustrália, a Elite Boxing adquiriu a franquia do Evolution ( já estabelecida desde o ano 2000 como a marca número um do Muay Thai no mercado australiano ), a qual também tornou-se atualmente uma série de eventos “ ao vivo ” e uma das principais marcas do seu portfólio.

Além das lutas na Áustrália, Bangkok e Phuket, a Elite Boxing também produz seus shows na Alemanha, Suiça e Rússia.

A novidade é que agora eles se juntaram ao Abu Dhabi Warriors, torneio de MMA originário de Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, com isso o Show daquele país do Oriente Médio dá um grande passo para a sua expansão no mercado internacional, visto este também almejar realizar torneios em vários países pelo mundo.

O fechamento da parceria foi anunciada por Toli Makris, co - fundador da Elite Boxing e confirmada por Lubomir Guedjev, do Abu Dhabi Warriors.

Esse projeto faz parte de uma " Joint venture " que permitirá às duas franquias se beneficiarem das experiências e conexões de cada uma.

Assim sendo, as duas empresas anunciaram que vão cooperar, também, sob o formato de “ Cards ” mistos, sendo que as lutas de MMA estarão sob os cuidados da marca do Abu Dhabi Warriors e as de Muay Thai estarão sob a franquia da Elite Boxing.

Um dos shows produzidos por eles com esse propósito é o Elite Fight Night, sendo que os mesmos passarão à ser realizados em vários países do mundo.

Antes restrito à shows em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, o Abu Dhabi Warriors Fighting Championship já iniciou a expansão da sua marca para locais diferenciados, tais como Bangkok, na Tailândia.

Após o primeiro evento na Bulgária realizado no mês passado, o primeiro final de semana deste mês marcou a primeira vez Road to Abu Dhabi show em Kuala Lumpur, na Malásia.

Agora os parceiros EFN / AD Warriors estão iniciando os preparativos para desembarcar no Brasil, com vistas ao seu primeiro evento na América do Sul.

O local escolhido foi a cidade de São Paulo,e para tanto, o leque de opções foi ampliado para a inclusão de uma outra modalidade : o kickboxing, além de mais uma parceria com o WGP, uma das maiores promoções brasileiras do gênero.

Pela primeira vez na história, o público em São Paulo vai experimentar um “ Card ” de lutas composto por MMA, Muay Thai e Kickboxing, sendo que cada modalidade será homologada por uma promoção de luta diferenciada.

Assim sendo, haverá um Challenger GP válido pelo Kickboxing, com o vencedor desafiando o campeão do evento WGP. Na parte do EFN, o vencedor do GP irá disputar o King’s Cup em Bangkok, na Tailândia , no dia 5 de Dezembro e na parte do Abu Dhabi Warriors, quem vencer vai aos Emirados Árabes competir no MMA, no final do mês de novembro.

O Sr. Lubomir Guedjev, do Abu Dhabi Warriors está bastante animado com o próximo evento em São Paulo, pois a capital paulista representa uma excelente vitrine com vistas à expandir a marca para demais cidades do mercado brasileiro.

Já foi confirmado pela Elite Boxing que todos estes eventos terão o seu apoio com direito à produção de vídeos e distribuição global dos mesmos, tanto sob o formato de sua rede mundial de organismos de radiodifusão televisiva e da empresa in - house plataforma online EB-TV .

Esse é o verdadeiro espírito de MMA , a união de muitas forças para benefícios mútuos.

WGP #34 / EFN 9 / Abu Dhabi Warriors
Data: 1 de novembro de 2016
Local: Ginásio Mauro Pinheiro (Rua Abilio Soares, 1300 – Paraíso, São Paulo/SP
Hora: 18h30
Ingressos : Ticket360.com.br (https://goo.gl/zB8sey)

*Texto do Colaborador Oriosvaldo Costa

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Falastrão ex-UFC Chael Sonnen já tem adversários em mente para suas lutas no Bellator



Assim que decidiu abandonar a sua aposentadoria, Chael Sonnen mal teve tempo de chegar ao Bellator ( organização de MMA que o mantêm sob contrato atualmente ) que já começaram os rumores na mídia especializada.

É bem verdade que foi o lutador quem deu o pontapé inicial nas especulações ao fazer uso do seu tradicional e eficiente ‘ trash talk ’ ( jogo sujo com as palavras e provocações à adversários ) para ‘ cavar ’ possíveis confrontos pela nova franquia.

Para nós, brasileiros, seria interessante vermos uma luta dentro do ‘ Cage ’ entre o ‘ lutador com pinta de gangster ’ e seu desafeto de longa data Wanderlei Silva, com que chegou às vias de fato nos bastidores do The Ultimate Fighter Brasil 3.

Numa publicação postada via rede social, Wanderlei Silva mandou um recado para Chael Sonnen dizendo que logo acertarão as contas, afinal a história deles não terminou e, além disso, chamou-o seu rival de " folgado ".

Outro lutador na " alça de mira " do " falastrão " é Fedor Emelianenko, que foi classificado por Chael Sonnen como um lutador ‘ superestimado ’, ‘ desconhecido ’ da maioria dos fãs e portanto ‘ esquecível ’, durante comentários em um Podcast. Na ocasião, Sonnen ainda acusou o " último imperador Russo " de preferir lutas fáceis.

O presidente do Bellator Scott Coker declarou em entrevista ao MMANews que existe a possibilidade de Chael Sonnen e Fedor Emelianenko virem à se confrontar mas a luta não foi fechada e nem tão pouco existe alguma data estipulada para tal confronto. Essa é portanto, outra possibilidade.

Por outro lado, o ‘ Bad Guy ’ poderá passar de desafiante à desafiado, uma vez que Rory McDonald ( um outro ex-UFC também à integrar o plantel do Bellator ), declarou seu desejo de lutar com Sonnen em entrevista concedida ao jornalista Ariel Helwani.

Mas dentre todas essas possibilidades, uma luta com Tito Ortiz é a mais provável.

Pois, de acordo com a conta do Twitter de nome Inside MMA, de propriedade da AXS TV, o próprio Tito Ortiz informou que lutará com Chael Sonnen em janeiro de 2017.

Não foi informado em que categoria de peso essa luta vai acontecer. Possivelmente será no peso-meio-pesado, uma vez que Ortiz costuma lutar nessa categoria, enquanto as três últimas lutas de Sonnen também foram no peso-meio-pesado.

Mais isso não será impedimento para o confronto, uma vez que Sonnen afirmou recentemente que suas pretensões não se limitam à lutas em apenas uma única categoria de peso, mas no que chamou de " gangster weight " ( peso de gangster, em português ).

Se for realmente concretizado, este será o combate de estreia de Sonnen ( 28-14-1 ) no Bellator e também a sua primeira luta desde novembro de 2013. Ortiz ( 18-12-1 ), por sua vez, não luta desde setembro do ano passado, quando foi derrotado por Liam McGeary.


Dança das cadeiras entre atletas do Bellator


Conhecido como o ‘ Bad Boy ’ de Huntington Beach ( cidade localizada no litoral do Condado de Orange, no estado norte-americano da Califórnia ) desde os seus primórdios no UFC, Tito Ortiz também deseja lutar com Fedor Emelianenko, além de ter outros nomes de sua preferência : Quinton ‘ Rampage ’ Jackson e até mesmo o lendário Royce Gracie.

Royce, por sua vez, é cotado pela imprensa norte-americano para lutar com Matt Hughes ( em uma revanche ), Dan Severn ( que voltou à competir no MMA recentemente ), ou mesmo um desafeto de longa data, Benny ‘ The Jet ’ Urquidez, famoso campeão de Kickboxing nos EUA.

Apesar de Benny nunca ter lutado MMA, o Bellator tem por hábito por os " coroas " para lutar entre si e a rivalidade entre ambos, que remonta ao final dos anos 1990, seria excelente para vender ingressos e para o sistema de ‘ Pay-Per-View ’.

Com tantas opções, os casamenteiros de lutas do Bellator devem estar em ritmo frenético de negociações, mas não importa quais destes duelos venham à ser fechados, pois com os nomes que estão no páreo o fã pode ter certeza que irá presenciar excitantes confrontos.

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Veterano ex-UFC Jeff Monson vence em show com grandes lutas na Rússia



Aconteceu dia 09 de Outubro, no complexo desportivo “ Olympus ”, em Moscou, capital da Rússia, o duelo entre Shannon “ The Cannon ” Ritch e Jeff “ The Snowman ” Monsosn, válido pelo Fight Séries, uma promoção da companhia local A-Fight Promotions.

Diferentemente do restante do “ Card ” composto por lutadores do Cáucaso do Sul e Russos, o “ main event ” não foi uma luta de MMA e sim, um duelo de “ Grappling ”, entre os veteranos. Não se sabe o que aconteceu nos bastidores.

O fato causou estranheza e surpresa em alguns fãs ao redor do mundo, uma vez que a luta foi anunciada como MMA, à semelhança das demais que compuseram um excelente show para o delírio do público que compareceu ao local.

Com um tempo máximo estipulado em 10 minutos, a luta foi definida com um pouco mais de 05 min. com vitória de Jeff Monson.

As lendas do MMA foram bastante aplaudidas pelo público, e ambos ficaram novamente por mais de uma hora posando para fotos juntos com os fãs, à semelhança da conferência de imprensa no dia anterior.

Já naturalizado um cidadão Russo desde 2015, Jeff era o favorito da platéia, e a luta foi tida então como um clássico “ USA vs Rússia ”, em competições esportivas. Mas Shannon também é bastante popular no país de Vladimir Putin e aproveitou a viagem para ministrar um concorrido seminário para os jovens atletas de Stavropol e compartilhou sua experiência em MMA adquirida nos ringues, “ cages ” e “ octógonos ”.

Jeff e Shanon foram tratados no país com o devido respeito que os atletas profissionais merecem. Ambos os lutadores acreditam que a Rússia se tornará o país número um do mundo no MMA nos próximos anos.

domingo, 9 de outubro de 2016

Warrior Island : o Reality Show da Global Proving Ground deve estrear no próximo ano



Warrior Island : o Reality Show da Global Proving Ground deve estrear no próximo ano


Muitos dos fãs ´ undergrounds ´ de MMA já indagaram como seria a realização de um “ Reality Show ” criado no formato de um velho filme de kung fu. Como chegaríamos ao vencedor ? Talvez ele fosse como “ Enter the Dragon ”, ou mesmo “ Bloodsport ”, no qual você teria que vencer uma eleição para ser levado à uma ilha e ser o último Homem à permanecer de pé para sair dela ?

Toda a glória, fama e prestígio seriam suas, bem como um grande prêmio de U$ 5000. Esse conceito é, na verdade, a ideia de James Jefferson, Presidente e CEO da Global Proving Ground.

Recentemente, tive a oportunidade de falar com James, e obtive algumas dicas sobre o seu Reality Show inovador, o “ Warrior Island ”.
“ Warriops Island veio do amor que eu tinha por um filme chamado ´ Enter the Dragon ´, e como um artista marcial que sou, eu queria fazer algo um pouco diferente. Juntamos a nossa criatividade com a confiança daqueles que estavam envolvidos inicialmente com o UFC. Nosso diretor, Ben Perry, é um dos locutores originais do UFC, e é realmente um faixa preta no âmbito da família Gracie.
Dan Severn é um campeão original do UFC, e é um dos mestres no Show.
Relson e Renzo Gracie, Chung Kwok Chow, Don Wilson, dentre outros, também estão trabalhando com a gente. ”

“ Também pegamos pessoas que estavam trabalhando com o formato de Reality Shows para a TV e gostariam de produzir um conteúdo diferente para o mundo do MMA.
Trabalhamos ainda com redes sociais como o Facebook e Youtube, e acreditamos que seremos um sucesso como o ´ American Idol ´ ”.
“ Como eu disse anteriormente, eu sou um viciado em antigos filmes de artes marciais, por isso nós temos, Ron Van Clief, o Dragão Negro, ele era o comissário original do UFC.”

“ Eu acho que as pessoas estão ficando doentes e cansadas de ver um monte de gente em uma casa, chorando nos ombros uns dos outros. Eles querem ver algo interessante. Ação de Verdade.
Estamos indo treinar estes lutadores em uma ilha, com pedras rudimentares e polias, como no filme Kickboxer com Jean Claude Van Damme.
Os fãs poderão interagir enquanto tudo isso estiver acontecendo, e então esses caras vão lutar. Vão bater e botar para baixo, e diferentemente dos shows promovidos pela Global Proving Ground não haverão regras em nosso ´ Reality Show ´, traremos de volta o velho formato No-Holds-Barred ( NHB ) como nos dias em que Dan Severn estava competindo no UFC. ”

“ Nós começaremos à filmar o piloto neste inverno, e ficaremos cerca de duas semanas na ilha. A partir daí, planejamos fazer duas temporadas por ano, e os lutadores vão ficar lá por cerca de um mês à cada temporada. Eles serão bem pagos, enquanto eles estiverem por lá, porque é um projeto de Hollywood, com Atores que são nossos parceiros. Os lutadores vão receber hospedagem, alimentação, passagens, além de um bom salário enquanto estiverem lá. Mesmo os perdedores serão pagos por suas lutas. O vencedor não só receberá um prêmio incrível, mas também assinará um contrato com a Global Fight League Proving Ground, que é um outro conceito ( e único ) no MMA. ”
“ Nós vamos promover lutas em seis continentes. Não estaremos competindo com ninguém.Queremos melhorar as outras promoções. É tudo no espírito das artes marciais, com honra e respeito. Como por exemplo a produção que lançamos no dia 17 de novembro ( 2012 ), o Midwest Cagefighting Ultimate. ”

Jefferson disse ainda que eles têm investidores privados que apoiam o seu projeto, bem como patrocinadores. Enquanto a maioria das promoções de MMA fazem acordos de exclusividade com os seus patrocinadores, a GPG irá fazer ofertas e manter as opções viáveis em aberto. Ele ressaltou o fato de que as empresas menores que foram colocadas para fora do UFC devido aos altos impostos terão um lar estável em sua empresa, sem nenhum custo adicional. Os lutadores também terão a liberdade de trabalharem com outras organizações.
Em um cenário em que nós estamos vendo organizações de MMA quebrarem ( uma após a outra ), vai ser interessante ver como esta se sairá. Seu conceito é único, e sua vontade de cooperar com outras organizações só poderá ser o ingrediente para a longevidade e sucesso.

O que é a Global Proving Ground ?

Desde 2010 a Global Proving Ground realiza seus shows de mesmo nome sob as regras profissionais unificadas de MMA e distribui esse conteúdo nas mais variadas plataformas, muitas delas com sistema de transmissão ´ ao vivo ´ e que incluem, além das mais recentes e modernas tecnologias ( cito entre estes o aplicativo : GPG FIGHT NIGHT APP para o iTunes - da Apple ), também alguns parceiros como os canais HBO Plus e NBC Sports, dentre outros.

A franquia também inovou em um sistema de parcerias com outros shows, tais como o XFE, Midwest Cage Championship, Victorium MMA, NYEF, Showfights e o UCMMA, dentre outros, e se estabeleceu em locais como o Reino Unido, Portugal, Letónia , Escócia, New Jersey, New York, Pensilvânia, Virginia, Missouri ( estes cinco últimos são estados norte-americanos ), e já abriu novas inscrições para lutadores de todo o Brasil, com vistas à dar oportunidades aos nossos atletas de iniciarem suas carreiras internacionais e futuramente estabelecer suas promoções de lutas - também - em nosso país.

Antes da promoção de shows propriamente dita, a GPG deseja fazer contato com grandes fabricantes de roupas e equipamentos no Brasil para que possam fazer um acordo e dar inicio à uma maior expansão de sua marca em nosso país.

*Contributed by Senior GPG Writer, Oriosvaldo Costa, “Mr Kung Fu.”

Site oficial da Global Proving Ground :

http://globalprovingground.com/index.php/en/

Warrior Island Trailer 2016

https://www.youtube.com/watch?v=E_BqXEfD-jc

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Veterano ex-UFC Jeff Monson encara Shannon Ritch na luta principal do A-Fight Promotions, na Rússia



Os lutadores Shannon “ The Cannon ” Ritch e Jeff “ The Snowman ” Monson serão a principal atração do “ Card ” do A-FIGHT Promotion, evento que será realizado em Moscou, na Rússia, no dia 09 de Outubro, um feriado naquela cidade.

Shannon “ The Cannon ” Ritch é dono de um dos maiores cartéis de MMA em todo o mundo : 114-92-2. Embora seu registro no Sherdog aponte apenas 55-80-2, o norte-americano já encarou verdadeiras lendas do esporte tais como Dan Severn, Kazushi Sakuraba, Yuki Kondo, Frank Shamrock, e José ” Pelé ” Landy dentre muitos outros adversários e já lutou em vários países pelo mundo.

Shannon já viajou para a Rússia em 4 oportunidades e é famoso por lá, onde ministra ocasionalmente alguns seminários de MMA e Brazilian Jiu Jitsu. Parte de sua fama entre os Russos se dá por já ter vencido um torneio eliminatório de 8 lutadores naquele país.

Assim sendo ele foi escalado pelo A-FIGHT Promotion para fazer o “ Main Event ” do ” Fight Series ” com Jeff Monson no show que acontecerá esse final de semana na capital do país.

Seu adversário, Jeff “ The Snowman ” Monson é um norte-americano que recebeu a cidadania Russa em 2015 e foi ajudado nessa questão pelo líder do Partido Liberal Democrata da Rússia Vladimir Zhirinovsky.
Conhecido por sua visão anarquista na política, Monson possui bacharelado e mestrado em Psicologia. Por alguns anos ele trabalhou na area, tanto na clinica como na psicologia familiar.

Ele também ama a arte Russa, sua cultura e literatura – especialmente [ escritor ] Leo Tolstoy.

Em uma de suas últimas entrevistas, Monson declarou que planejava mudar-se em definitivo para o país e que ainda não o havia feito pelo fato de sua família ainda estar vivendo na América.

O registro de Jeff no Sherdog consta de 59-26-1, sendo que nos últimos 5 anos ele já vinha competindo ativamente nas promoções de MMA baseadas no país de Vladimir Putin.

Tanto Shannon quanto Jeff concordam que a Rússia se tornará o país número um do mundo no MMA nos próximos anos e sentem-se honrados em protagonizar o “ Main Event ” de um grande show naquele país.

A cerimônia de abertura e conferência de imprensa do torneio será realizada no sábado, 8 de outubro. Endereço: G. Stavropol, str. Lenina 381, centro comercial ” Linha Vermelha “, Fitness Club Alex Fitness e terá início às 16 horas ( horário local ) quando Shannon Ritch e Jeff Monson participarão de uma sessão de autógrafos e fotos com os fãs.

sábado, 24 de setembro de 2016

Artigo : Apenas o mundo do MMA quer Donald Trump como Presidente dos Estados Unidos da América



Neste artigo irei tratar de política, assunto delicado para muitos no meio esportivo, uma vez que, os esportes em geral, tendem a unir pessoas de diferentes credos e ideologias enquanto que, a política, invariavelmente, as divide ao longo de qualquer número de linhas.
Durante as primárias republicanas deste ano, nos EUA, vi dois concorrentes com oportunidades reais de indicação para a vaga de seu partido com vistas à eleição presidencial. Um deles era Jeb Bush. O outro, Donald Trump. Não por acaso, Trump está sendo louvado por parte da comunidade do MMA.

Não era para menos. Trump sempre foi um aliado do MMA desde os primeiros dias da era Zuffa LLC (Companhia dos irmãos Frank e Lorenzo Fertitta), oferecendo suas propriedades em Atlantic City quando a promoção tinha dificuldades em encontrar um local remotamente desejável para realizar seus shows.

O longínquo UFC 28 (2001) foi realizado na Mark. G. Etess Arena (principal palco do boxe profissional fora do estado de Nevada), localizada no faraônico hotel Trump TAJ Mahal Cassino Resort, em Atlantic City, New Jersey, do irreverente multimilionário, e marcou o início de uma nova era de grande prosperidade para o esporte. As edições seguintes (ainda no Trump TAJ Mahal) foram um espelho para o UFC entrar em Las Vegas e ser legalizado pelas demais comissões atléticas estaduais.

A paixão do empresário de New York pelo esporte era tamanha que, posteriormente, ele fundou seu próprio show de MMA, o Affliction, em parceria com a lenda viva do Boxe, Oscar de La Hoya. O show chegou a concorrer com o UFC, mas Trump soube manter a política da boa vizinhança.

O ainda presidente do UFC, Dana White, também sempre agradeceu publicamente o apoio do multimilionário e sua presença nos shows da organização. A simpatia e admiração mútua culminaram com Dana fazendo um discurso de apoio à Trump na convenção republicana em Cleveland, no final do mês de Julho. Na ocasião, Trump foi nomeado como candidato do seu partido à casa branca.

Dana sempre foi conhecido por dizer o que pensa, e Trump, é outro valentão, cuja vaidade e pura sorte o empurraram para o lugar certo no momento certo. Ou seja, as circunstâncias lhe garantiram o direito de concorrer à sucessão presidencial americana embora sua campanha tenha sido marcada por polêmicas por conta da sua retórica contra muçulmanos, hispânicos, imigração ilegal e comércio, alarmando até mesmo alguns dentro do seu próprio partido.

No campo da política externa, Trump já afirmou várias vezes que quer viver em paz com a Rússia e a China, comentando até mesmo que “uma América forte e inteligente é uma América que tem a China como boa amiga”. Coincidentemente, o UFC foi recentemente vendido para a WME-IMG, um conglomerado composto por empreendedores americanos e empresários abonados da China – em sua grande maioria – então, a parceria White/Trump forjada em “lealdade e apoio” só vem somar nesse sentido.

Já celebridades e cada vez mais obcecados pelo sucesso, será fácil confundir a aliança White-Trump como uma oportunidade de marketing simbiótica para os dois agressivos e predadores homens de negócios.

Apesar de também dividir opiniões na comunidade das lutas, há os que festejam a candidatura deste que pode ser realmente um dos melhores negociadores de todos os tempos.

Não é nada, não é nada. Seria apenas um grande fã de MMA, Boxe, Pro Wrestling e lutas em geral no posto de dono do mundo.


quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Mestre Alex Magnos fala sobre o Wing Chun da Shaolin Boxing Association




1 ) Mestre Alex Magnos, primeiramente gostaríamos de saber o que é o Shaolin Wing Chun e no que este difere das outras escolas de Wing Chun ?

Alex Magnos : Bem, para início de conversa, Shaolin Wing Chun não é uma linhagem ou Sistema ou estilo. Veja que, desde sempre, os mestres ou, digamos, estudiosos do Wing Chun, têm se esforçado a estabelecer uma significativa separação entre os termos ‘sistema’ e ‘estilo’, mesmo assim esse esforço tem sido meio que em vão, pois muitos dos que intentam por chamar a arte Wing Chun de Sistema, não sabem exatamente como se deve apresentar ou compreender esse próprio termo ‘Sistema’; e isso vem causando um significativo legado de erros de compreensão entre os praticantes da arte. Então, para que possamos esclarecer o que representa o nome ‘Shaolin Wing Chun’, faz-se necessário que antes falemos sobre as definições desses dois termos: ‘estilo’ e ‘sistema’. Grosso modo, Wing Chun é, em última análise, tanto um ‘sistema’ quanto um ‘estilo’, ou seja, são as duas faces de uma mesma moeda; o problema nesse caso resulta do fato de que a maioria dos praticantes não sabe identificar quando o Wing Chun é um e quando é o outro, o que, obviamente, leva a outro problema – a confusão quanto ao ensino da arte. Este é um assunto interessante e longo, diga-se de passagem, mas tentarei ser o mais breve possível. O comum, quando falamos em estilo, é atermo-nos à questão da imitação, ou seja, à mitologia dos métodos de Kung Fu baseados em animais ou à mimica de instrutores. Alguns praticantes chegam mesmo às vias de separar ‘estilo’ de ‘sistema’ simplesmente por classificar supostos métodos baseados em animais como sendo ‘estilos’ e não sistemas, mas isso é essencialmente um erro. Estilo é aquilo que é ímpar, individual, único, intransferível; em suma, é a expressão pessoal, única de uma pessoa como artista marcial; poderíamos mesmo dizer que ‘estilo’ é o ‘Jeet Kune Do’ de cada praticante que realmente aprendeu, realmente compreendeu uma arte marcial, qualquer que seja ela. Seguindo esse pensamento, não seria possível a alguém aprender ou ensinar determinado ‘estilo’ a outro, pois, obviamente, estamos falando de ‘expressão pessoal’, ou seja, o estilo é aquilo que surge no final da jornada, é o produto último, derradeiro, o resultado do esforço em aprender e compreender a arte, é algo pessoal e intransferível, é aquilo que é exclusiva e essencialmente seu e, dessa forma, não poderá ser transferido ao outro. Já quando falamos em ‘Sistema’, o comum é atermo-nos a nossa consciência e memória coletiva que alimenta nossa lógica ocidental greco-romana, um pensamento essencialmente aristotélico, onde um ‘sistema’ é aquilo que contém um início, um meio e, por conseguinte, um fim, bem claro, bem estabelecido e que facilmente poderá ser identificado como tal, como uma seta ou linha reta ou algo do tipo. Contudo, sendo uma arte marcial essencialmente Shaolin, o Wing Chun tem todo o seu fundamento no Chan Budismo, dessa forma, tornando-se indispensável a compreensão dos preceitos e filosofia Chan para que possamos entender os fundamentos da arte. Assim, quando usamos Hai Tung, o termo cantonês, traduzido para o ocidente simplesmente como ‘sistema’, sem uma análise mais profunda de sua hermenêutica, findamos por enfrentar uma considerável perda de seu significado intrínseco, o que, consequentemente, levará a um erro, primeiro, de aprendizagem, depois, de ensino da arte. De uma perspectiva do Chan Budismo, Hai Tung significa interconexão entre partes unificadas para gerar um todo completo; mas, diferente da compreensão ocidental de sistema, Hai Tung não é disposição linear de partes separadas, mas uma disposição circular de partes interconectadas, as quais não são inteiramente juntas nem também inteiramente separadas. Veja essa ideia como uma representação de um círculo, não é possível dizer onde começa nem onde termina a linha que forma a figura de um círculo. Isso é o que Hai Tung representa quando falamos de ‘Sistema’ quanto a aprendizagem do Wing Chun. O que seria o início bem poderá ser o fim e vice-versa. Quando olhamos dessa forma para o Wing Chun, descobrimos que nem sempre o primeiro passo de um aprendiz deverá ser em Siu Nim Tau, tendo um fim em Baat Jaam Dou (por exemplo); na verdade, isso dependerá muito da relação Si-Tou (mestre-pupilo). Isso porque, dependendo dos objetivos, tanto do mestre quanto do estudante, a metodologia poderá ser focalizada de maneiras diferentes, buscando resultados específicos para ambos. Em suma, um professor que realmente compreenda o Wing Chun Hai Tung de uma perspectiva Chan Budista, poderá iniciar um estudante a partir de qualquer “parte do sistema”, uma vez que tudo é ‘interconectado’, se você entende o que estou querendo dizer. Esse ‘caminho’ que chamamos Hai Tung (sistema) que leva ao resultado final (estilo) é o que denominamos Ciência Marcial que por sua vez é composta por fatores específicos, sem os quais, não poderíamos compor o Hai Tung que dá lugar à Ciência Marcial. Entre esses fatores podemos citar alguns: a Fórmula do Tempo, Espaço, Energia, que estabelece todo o conhecimento relacionado à Estrutura Tridimensional (Espaço), Posicionamento (Tempo) e, obviamente, Energia, ou se preferir, Força; os Dois clássicos de Shaolin, que são métodos para desenvolvimento de força / poder (energia) através do Hei Gung, indo desde o superficial (pele e músculos), passando pelo externo (tendões e ossos) até chegar no interno (medula óssea e sangue). Esses fatores são coordenados por preceitos do Chan Budismo como o Saam Mo Kiu (Três Pontes Conectoras), o Hau Chyun San Sau (Transmissão Oral, Expressão Corporal) que auxiliam o estudante durante sua transição nas seis camadas de profundidade nas quais a Ciência Marcial é composta para levar o praticante da condição de iniciante (leigo) ao estado avançado (artista marcial), ou seja, o estado no qual o praticante terá a habilidade de expressar a si mesmo, honesta e verdadeiramente, um estado no qual o indivíduo e a arte serão um único ser. A maioria das artes marciais, independente de ser chinesa ou não, de ser budista ou não, tem sua existência delimitada pelas duas primeiras dessas seis camadas, algumas ficam estagnadas na primeira camada (que chamamos nível técnico), outras conseguem atingir as camadas dois (mecanismos corporais) e algumas mesmo chegando à terceira (conceitos); é justamente essa terceira camada que reflete aquela famosa citação de Bruce Lee sobre quando ‘ um soco volta a ser apenas um soco, um chute apenas um chute ’. Existem outros fatores, mas os dois citados aqui são o bastante. Quando pensamos em metodologia de ensino, Hai Tung nos dá a capacidade de iniciar um estudante de qualquer ponto, ou melhor, parte do círculo, ou melhor, do todo que é o Wing Chun, não necessariamente temos que, categoricamente, iniciar da forma (Kuen Tou ou Tau Lou) Siu Nim Tau, pois podemos iniciar de Biu Ji, por exemplo, ou de qualquer outro ponto. Contudo, independe do ponto que iniciarmos, o início sempre acontecerá na primeira camada (nível técnico) das seis, de onde conduziremos o estudante até à sexta e última camada onde será capaz de expressar a si mesmo honestamente; esse é o momento do estilo. Shaolin Wing Chun não é um rótulo para definir uma linhagem ou sistema, nem significa que é o Wing Chun que alguém aprendeu no Templo Shaolin ou por meio de um monge Shaolin. Não! O uso do termo Shaolin Wing Chun implica que o conhecimento dos fatores e elementos supracitados são, supostamente, aplicados no ensino da arte pelas escolas ou sifus que fazem propaganda do mesmo. Por fim, é importante deixar claro que os métodos, fatores e elementos que compõem o ‘Shaolin Wing Chun’ são indissociáveis, para não dizer exclusivos, do conhecimento das ‘sociedades secretas’ anti-Qing. Em suma, Shaolin Wing Chun é um legado de conhecimento que já se estende por mais de quatrocentos anos. Eu poderia aprofundar e detalhar ainda mais esse assunto, mas, por hora, o que falei é o bastante e espero que ajude de alguma forma aos interessados no assunto.

2 ) Para interação do público leigo e mesmo do dito “ especializado ” poderia nos falar um pouco sobre alguns fatos não tão conhecidos no que diz respeito à história do Wing Chun ?

Alex Magnos : A história do Wing Chun é um assunto repleto de controvérsias desde sempre, mas uma coisa eu gostaria de ressaltar: vejo muitos praticantes e estudiosos digladiando-se em defesa de suas próprias versões ou interpretações do que julgam ser a história do Wing Chun; alguns defendem a propagação da história de origem da arte ligada à tal monja e sua pupila, outros negam totalmente essa história, embora essas não sejam as únicas controvérsias existentes. Embora eu seja uma pessoa absolutamente aversa a dogmas, quaisquer que sejam eles, não tenho intenção nenhuma de destruir as crenças ou dogmas de quem quer que seja. Contudo, acredito que as crenças desse ou daquele praticante ou escola de Wing Chun, tem seu fundamento no que entendem do próprio Wing Chun. Por exemplo, se uma pessoa conhece os preceitos Chan Budistas que não só fundamentam, mas que também deram origem ao Wing Chun (sim, digo deram origem pois alguns desses preceitos datam de muito antes dos primeiros relatos sobre a arte, sejam por meio das lendas ou das tradições de sociedades secretas), tal como o Saam Mo Kiu (Três Pontes Conectoras), que remonta ao Templo Shaolin do Norte, chegando à China através do Budismo Mahayana, e, antes desse, tendo sua origem ainda muito mais remota no Hinduísmo. O Saam Mo Kiu é absolutamente desconhecido pelas linhagens de Wing Chun que não tiveram uma conexão direta com as sociedades secretas anti-Qing, que por sua vez, remontam ao Templo Shaolin do Sul, queimado pelos manchus ainda no século 17. Uma vez que a história da origem lendária (monja e pupila) foi propagada primeiro pela companhia teatral de Fatsan, chamada King Fa Wui (Associação da Flor de Jade), comandada por um dos maiores expoentes do Wing Chun entre os séculos 17 e 18, o ex-general do exército Ming, Cheung Ng (embora saibamos que esse não é seu nome real), e, depois, disseminada pela companhia teatral Hung Suen Hai Ban (Ópera dos Barcos Vermelhos), que foi uma sucessora direta da King Fa Wui, entende-se porque existe essa dicotomia entre os praticantes. Segundo os relatos das sociedades, essa suposta lenda foi engendrada para burlar a atenção dos Qing quanto aos revolucionários, afastando assim os espiões Qing dos interesses do movimento Wing Chun durante o período revolucionário. Relatos chegam mesmo a citar o próprio Cheung Ng como a pessoa que teria criado a história lendária como uma peça teatral encenada pela King Fa Wui e depois pela Hung Suen Hai Ban. De fato, não tenho nenhum interesse em discutir aqui se a lenda advém de uma verdade ou se, como é dito na Hung Fa Wui (Sociedade da Flor Vermelha), é apenas produto da mente criativa de Cheung Ng, pois, de qualquer forma, como sabemos que nada no Wing Chun deve ser tomado literalmente, mas que precisa ser observado e analisado com cuidado para que possamos descobrir os ‘segredos’ e ‘códigos’ que os antigos nos deixaram, a lenda da monja e da pupila também precisa passar por esse cuidadoso crivo, pois ela contém um simbolismo muito rico para os praticantes e estudiosos do Wing Chun, além de guardar códigos que encerram um profundo conhecimento da arte marcial Wing Chun. Como exemplo posso citar o nome da monja, Ng Mui, que pode ser traduzido como “Cinco Pétalas” ou “Cinco Ramos”, em nossas tradições, é um código que faz referência a preceitos de treinamentos chamados Ng Mui Gong Yau Faat (cinco métodos de energia dura e suave), os quais, obviamente são desconhecidos pelas linhagens de Wing Chun desconectadas das antigas sociedades secretas anti-Qing. Algo parecido acontece com o nome Yin Wing Chun que, na tradição da sociedade revolucionária, é um antigo código de legitimação e identificação entre os membros da Hung Mun, ao passo que na lenda, é o nome da pupila da monja. Segundo a oralidade da Hung Mun, foi somente por volta de meados do século 19 que seus conjuntos de métodos marciais passaram a ser comumente e especificamente denominados Wing Chun; mas que, originalmente, não era assim, já que, essencialmente, o termo Wing Chun representava o ideal que nutria a própria existência da Hung Mun, ou seja, destruir a Dinastia Qing e restaurar a Dinastia Ming.

3 ) Mas você é um praticante experimentado em Wing Chun de Ip Man desde 1989. Foi por isso que resolveu optar por estas outras linhas de Wing Chun ?

Alex Magnos : Na verdade, iniciei no Wing Chun no começo de 1987. Em 1993 comecei a dar aulas, em casa, para um grupo de amigos, mas foi só em 1996 que comecei a ensinar profissionalmente. Passei pelos métodos Jin Wan, Moy Yat, Ho Ka Ming, Tradicional Wing Chun, entre outros, antes de seguir para as chamadas linhagens de sociedades secretas em 2005. Além do Wing Chun, passei por Jeet Kune Do, Taekwondo, Karate e vários outros métodos de Kung Fu (incluindo Hung Ga, Shaolin do Norte e Cinco Animais), mas nenhum me conquistou como o Wing Chun. E desde que me lembro, sempre tive essa sede de aprender todos os aspectos dessa incrível arte, sem estar preso aos limites de uma escola ou linhagem. E, uma verdade que não pode ser ignorada, é o fato de que nenhuma linhagem pode dizer que detém todo o conhecimento sobre o Wing Chun na atualidade sem ter tido a oportunidade de estudar os diferentes aspectos da arte em seus diferentes períodos ou eras, tais como: era moderna (dos anos 50 para cá), era Fatsan (Leung Jan e pós-Barcos Vermelhos), era dos Barcos Vermelhos (século 19), era das sociedades secretas (meados do século 17 e 18) e era Shaolin (das origens ao período pré-revolução). Afirmar que detém todo o conhecimento sem ter a bagagem supracitada é um ato leviano, e quem quer que diga isso o faz por motivos mercadológicos apenas. Mesmo nas “linhagens” derivadas de sociedades secretas existem coisas importantes que uma conhece e a outra não e vice-versa, eu sei bem disso, afinal estudei por anos duas dessas linhagens. Eu acredito que tive sorte (além de um bom dinheiro investido!) de ter a chance de conhecer profundamente o conhecimento existente nessas linhagens ou escolas pelas quais passei, desde as derivadas de Ip Man até as das sociedades secretas, pois elas me proporcionaram um conhecimento ímpar e uma compreensão ampla e, ao mesmo tempo, singular do que realmente é essa arte marcial Wing Chun. É por isso que hoje eu não limito meus próprios estudantes, pelo contrário, estou sempre testando seus limites e tentando abrir seus olhos a cada novo dia, afinal, esse é meu trabalho: conduzir cada um deles, além do ponto que eu mesmo atingi.

4 ) Nossos leitores também gostariam de saber um pouco mais sobre essa sua missão que tenta preservar o Wing Chun no Brasil e em todo o mundo.

Alex Magnos : Acredito que todos aqueles que realmente amam o Wing Chun, de uma forma ou de outra, sentem-se instigados a assumirem sua parte nesse empreitada. Afinal, quem realmente ama algo, vai sim querer encontrar meios de preservar esse algo para gerações vindouras! E veja bem, quando digo preservar, não me refiro a encontrar meios mais eficientes para melhor vender a arte. Não! Refiro-me a compartilhar de forma livre com qualquer um que tenha o mesmo amor e apelo pela arte. Não há dúvidas de que o Wing Chun foi uma arte que sempre esteve rodeada de sigilo e privacidade durante seu tempo, digamos, subversivo, como vemos ressaltado em antigas normas, tais como: “Biu Ji Bat Ngoi Mun”, que é mais conhecido aos praticantes da era moderna e quer dizer “Biu Ji não deve sair pela porta”, uma alusão clara sobre o fato de que, nos tempos antigos, o conhecimento deveria ser mantido restritamente dentro da família kung fu. Citando ainda outro, mais conhecido pelos praticantes de Shaolin Wing Chun, temos “Gaau Ngoi Bat Chyun”, que diz precisamente, “O ensino não dever ser exposto aos de fora”; essas regras existiram por uma boa razão no passado, quando os praticantes de Wing Chun eram pessoas que viviam à margem de uma sociedade (Dinastia Qing), e, como tal, necessitavam dessa máquina de segredo para que continuassem a lutar por seus objetivos: a derrota dos Qing e o retorno dos Ming. Mas hoje, no momento atual em que vivemos, totalmente desligados de conflitos políticos chineses ou mesmo de sociedades secretas, esse apelo aos chamados “segredos”, não passa de baboseira mercadológica. Não existe mais ideologia nenhuma relacionada ao Wing Chun que não seja ganhar dinheiro. Eu sempre me senti incomodado em todas as escolas nas quais estive onde os líderes vinham com aquele discurso de que a arte é apenas um produto de mercado. Lógico que esse pensamento é um resultado do meio em que vivemos, para o qual não vejo solução. Hoje, vivemos na época “caça-níqueis”, quando tudo que a maioria dos chamados profissionais de artes marciais faz, é feito visando aumentar sua cota do cifrão. Não que isso me interesse, eu não tenho pretensão nenhuma em querer mudar o que quer que seja. Apenas quero seguir fazendo o que acredito ser o correto para mim e para aqueles que estão comigo. Quanto aos outros, que cada um faça o que acredita ser correto para si. Quem somos nós para querer julgar o outro. Mesmo assim, eu sou uma pessoa adepta da lei natural, o que os antigos budistas chamavam de Karma-Pala; portanto, tento sempre fazer o meu melhor. E fazer o meu melhor resulta em educar aqueles que me procuram; ensinar-lhes a entender como esse mundo funciona, ensinar-lhes a reconhecer os lobos em pele de cordeiros espalhados por aí. Depois cabe a cada um fazer suas próprias escolhas. Essa é minha missão: ensinar sem barreiras financeiras a todos que me procuram.

5 ) Um assunto que é tabú aqui no Brasil diz respeito às Sociedades Secretas, sendo que este tema só veio à fazer parte da grande curricular de algumas poucas escolas de Wing Chun aqui no nosso país apenas à partir de 2003. Por que as demais escolas relutam em discutir esse assunto e quando o fazem apenas tentam negar a sua existência ? Uma vez que tais grupos também tiveram a sua importância na preservação dos conhecimentos do Kung Fu ao longo da história ?

Alex Magnos : Pois é, essa é uma questão interessante, mas veja bem, a maioria das pessoas gosta daquilo que é mais cômodo, mais confortável, que oferece menos desafios, dessa forma, tudo de novo (nesse caso, de velho! Risos) que chega para mexer, de alguma maneira, em sua aprazível comodidade, é visto como algo, no mínimo, ameaçador. Como eu disse antes, já tenho uma longa história no Wing Chun, por isso carrego comigo muitas lembraças, tais como; quando, em 1995, comecei a dar aulas (como professor auxiliar na filial da Moy Yat Ving Tsun em Fortaleza), uma das coisas que eu sempre me abstinha em propagar durante as aulas teóricas, era sobre a lenda do Wing Chun. Já naquele tempo esse conto tinha um gosto acetoso para mim. E eu simplesmente não falava sobre durante as aulas, mesmo que me fosse requisitado que eu falasse sobre. Quando os primeiros relatos sobre o brackground do Wing Chun ligado às sociedades secretas começaram a surgir por voltar de 1999, eu estava absolutamente preparado para isso, pois para mim, para minha forma de pensar, tudo aquilo que estava sendo revelado, isto é, um embrião nutrido nos lendários templos Shaolin, mais uma vez a china tinha sido invadida, uma dinastia Han deposta, o levante de uma união rebelde em defesa da nação Han, militares, revolucionários, sociedades secretas, etc, tudo fazia muito mais sentido para mim que a história de uma monja sobrevivente de Shaolin, que teria ensinado uma jovem camponesa, e daí, dado origem a uma das mais sofisticadas artes marciais chinesas. Eu lembro de muitas coisas sobre o Wing Chun dos anos 80 e 90. Entre elas, lembro que era tabu conectar Wing Chun ao templo Shaolin, bem como conectá-lo a Hei Gung (Qigong), outro coisa era grafia ‘Ving Tsun’ (que eu não gosto nem um pouco, diga-se de passagem) em detrimento da mais conhecida ‘Wing Chun’. Isso tudo mudou de 2000 para cá! Portanto, que as pessoas aceitem ou não, o fato do Wing Chun ter sido uma arte que surgiu para o público em geral a partir das sociedades secretas anti-Qing, não mudará em nada essa verdade insofismável. Sobre isso, lembro-me de uma história que um conhecido meu, que é chinês de Hong Kong, contou-me algum tempo atrás; ele disse que quando jovem queira aprender kung fu, mas seus pais não permitiram, em vês de kung fu, levaram-no para aprender judô, isso ainda nos anos 70, em Hong Kong. E por que? Você poderá indagar-se! Simplesmente por que o kung fu, qualquer que fosse ele, sempre teve um ar subversivo para muitos chineses que simplesmente queriam levar sua vidinha tranquila, sem nenhum conflito político ou ideológico de qualquer forma com o governo. E por que? Porque o kung fu sempre teve um passado ligado inegavelmente à Hung Mun, não importa se hoje seus praticantes aceitam esse passado ou não. Esse meu conhecido somente pôde iniciar seu aprendizado em kung fu quando se tornou maior de idade. Principalmente o Wing Chun, entre as artes marciais chinesas, tem tudo, absolutamente tudo relacionado com a antiga Hung Mun, que é o termo chinês para ‘sociedade secreta’ ou ‘maçonaria”. Eu já vi argumentos contra a relação Wing Chun – Hung Mun do tipo: ‘não existem documentos oficiais do governo chinês que corroborem essa teoria, dentre outros. Para mim, esse tipo de pensamento é mais que ingênuo, para dizer o mínimo. Como essas pessoas poderiam esperar que um governo (primeiro o Qing e, depois, a República) registrasse de forma positiva um movimento cujo principal objetivo era derrubar o governo. Esse é um pensamento muito ingênuo e revela uma descomunal falta de conhecimento a cerca da história chinesa. A história política e militar, das dinastias chinesas, são indissociáveis de sociedades secretas; sejam derrubando ou erguendo novos governos. Tomemos a dinastia Ming, por exemplo, foi fundada por um membro de sociedade secreta. Jyu Yun Jeung (Zhu Yuanzhang em mandarim) era seu nome. Ele foi membro da sociedade do Lotus Branco e dos Turbantes Vermelhos e é justamente em memória dessa pessoa em particular que muitas das tradições existem no Wing Chun, tais como muitas ‘formas’ ou ‘códigos’ de mãos, e coisas assim, incluído o próprio nome da arte. Sem esquecer Shaolin, que não era exatamente uma sociedade secreta por assim dizer, embora nunca tenha sido totalmente aberta como muitos pensam, sempre foi partidária da dinastia Ming, por motivos políticos, ideológicos-religiosos e, claro, também financeiros. Ainda podemos citar dois grandes nomes que decidiram os rumos do povo chinês no século 20: Mao Zedong e Chiang Kai-shek, uma vez que eles também foram membros de sociedades secretas com fins políticos, militares e marciais. Mas eu entendo o porquê de algumas pessoas decidirem não aceitar a relação do Wing Chun com as antigas sociedades secretas: comodidade! Para muitos seria um trabalhão ter que voltar a trás, realizar muita reformulação em uma história que é contada e aceita como verdade já por um bom tempo; sem falar na questão financeira que viria da aceitação da mudança. Particularmente, não culpo, não julgo aqueles que não aceitam as mudanças. Acredito que todos são livres para aceitarem ou não, isso é um problema de cada um. Contudo sua negação não tornará esse fato histórico menos verdadeiro do que ele é.

6 ) Ainda falando sobre Sociedades Secretas … Acredita – se que William Cheung teria aprendido uma espécie de Wing Chun sob algum grupo Red Flag. Ele teria feito sua própria síntese à partir daí ou, realmente, Ip Man teria reservado algum tipo de conhecimento para apenas um aluno em particular como clama Cheung ?

Alex Magnos : Sim, essa história é verdadeira. Mas antes de discutirmos isso, eu gostaria de falar uma coisa importante sobre essa questão: primeiro sobre as chamadas “bandeiras”, e, depois, sobre as chamadas “técnicas secretas” de Ip Man. Sim, exatamente após a queima de Shaolin do Sul que ocorreu por volta do ano 1683, o movimento revolucionário que já existia por alguns anos naquele mesmo mosteiro, movimento esse que era composto por membros da família imperial Ming, militares Ming, monges guerreiros de Shaolin e demais lutadores partidários da causa, foi forçado, obviamente, a seguir um outro rumo, uma vez que sua base de operações, Shaolin, fora destruída. Essa sociedade sobrevivente ao ataque que destruiu o mosteiro, ficou conhecida por vários nomes, tal como Tin Dei Wui (Sociedade Céu e Terra), Saam Hap Wui (Sociedade das Três Harmonias), entre outros. A razão dos vários nomes é bastante óbvia: mascarar o movimento diante da perseguição Qing. Somente quando os Qing decidiram radicalizar mesmo, ao apertar a corda ao redor dos pescoços dos revolucionários, foi que esses revolucionários desceram de fato para o submundo, ou seja, tornaram-se subversivos aos olhos do cidadão e do governo, e, com eles, levaram sua sociedade, dando assim início à Hung Mun. Originalmente, cinco facções que formavam a Tin Dei Wui / Hung Mun sobreviveram à queima de Shaolin; essas cinco facções são chamadas pela tradições de Ng Jou, no dialeto cantonês, que traduzido significa “Cinco Ancestrais” ou “Cinco Anciãos”. São esses cinco ancestrais que na lenda do Wing Chun são ditos como os ‘cinco mestres’ que teriam escapado à destruição do templo. E sim, essas cinco facções que compunham a sociedade Céu e Terra, desde sua origem até sua disseminação pelo sul da China, eram legitimadas pelo uso de um estandarte (não exatamente uma bandeira), cada uma com uma cor específica. Esse formato de estandartes com cores não é novidade entre os militares e paramilitares chineses do passado, tanto que o próprio exército manchu adotou o padrão, e, depois da queda da dinastia Qing, outros grupos paramilitares fizeram o mesmo. E sim, dentre os cinco estandartes, havia de fato o estandarte vermelho, que estabeleceu posto na cidade de Fatsan, em Guangdong. Havia também o estandarte preto, que manteve seu posto nos arredores de Putian, em Fujian, etc. Mas, segundo relatos que datam do início do século 18, a liderança dessa facção chamada Estandarte Vermelho teria mudado; supostamente, de um monge Shaolin para um ex-general do exército Ming. Sob a nova direção, os relatos dizem que muitas coisas internas foram mudadas, incluindo o nome da organização, para Hung Fa Wui, Sociedade da Flor Vermelha. Assim, já desde o início do século 18, não existe mais essa coisa de estandartes ou bandeiras vermelhas ligadas ao Wing Chun. Sei que algumas pessoas têm usado esse nome ‘Red Flag’ para se referir à história e métodos de kung fu da Hung Fa Wui, mas isso não passa de um forçar de barra para não ter que dá de volta o devido crédito ao grupo original. Para mim, isso também é pura ingenuidade, pois também sabemos que a Hung Fa Wui não sobreviveu o bastante para chegar ao século 19. Pois seu líder, Cheung Ng, lembra-se desse nome? Citado anteriormente? Pois, então! Cheung Ng entrou no radar dos Qing, durante sua liderança na Flor Vermelha, e teve que abandonar as atividades para conservar a própria cabeça sobre os ombros. Ele foi exilado por um partidário rico e poderoso, que dava suporte financeiro à casa de Ng. Então já não existia mais Sociedade da Flor Vermelha durante o século 19, muito menos no 20. Há outros relatos sobre um parente dessa pessoa que deu asilo a Cheung Ng, que algum tempo depois teria ingressado nos movimentos anti-imperialistas e mesmo na Rebelião dos Boxers, esse parente ficou conhecido com o nome Chan Biu ou Hung Gan Biu (embora saibamos que esses não eram seu nome real); mas essa pessoa estava à frente de outra organização distinta da anterior, já não era a Hung Fa Wui que morreu em Fatsan. Essa nova organização, segundo relatos, era chamada Hung Gan Wui, também do cantonês, Sociedade Bandana Vermelha, porque seus membros usavam um pano vermelho sobre as cabeças, parecido com um lenço pirata; que, por sua vez, acabava tendo uma alusão à antiga sociedade secreta do fundador e primeiro imperador Ming, Jyu Yun Jeung, que também era chamada Hung Gan Wui. A diferença entre as organizações, além do tempo, pois quatrocentos anos as separam, temos os objetivos: a primeira, a de Jyu Yun Jeung, visava varrer da china até o último mongol e reduzir às cinzas a Dinastia Yuan, fundada por Kublai Khan, em 1271; a segunda, a de Chan Biu, visava combater tanto a dinastia Qing quanto o imperialismo inglês que se alastrava no país. Segundo relatos, essa pessoa, Chan Biu, teria sido morta durante a Rebelião dos Boxers, e, algum tempo depois, seus partidários teriam formando uma irmandade remanescente chamada Hung Fa Yi, em cantonês, que traduzido, significa exatamente, Irmandade da Flor Vermelha. Mas dizer que Hung Fa Yi, Hung Fa Wui e Estandarte Vermelho ou mesmo ‘Red Flag’ são absolutamente a mesma coisa, tendo séculos que os separam, é meio que uma tremenda forçada de barra. De 2005 a 2008, eu fiz parte do grupo Hung Fa Yi, que atualmente tem sede em San Francisco, EUA. Mas, em 2010, descobrimos que existia um grupo relacionado a esse último, em Hong Kong; contudo, alguns detalhes chamaram nossa atenção, dentre eles o fato de que esse grupo de Hong Kong, não só não usava o mesmo nome – Hung Fa Yi – como o negava totalmente, tanto que usavam para si outro nome – Tit Fa Yi – em cantonês, significando “Irmandade da Flor de Ferro”; como também, não reconheciam o grupo dos EUA. Esse grupo de Hong Kong faz parte da atual Hung Mun; portanto, prefiro deixar esse assunto onde está. Bem, uma vez esclarecido sobre essa tal ‘Red Flag’, vamos retornar à sua pergunta: sim, essa história sobre William Cheung ter aprendido algo mais que apenas Ip Man Wing Chun é muito mais que apenas um boato. Diz-se que pelo final dos anos 70, o pai de Cheung, que era policial em Hong Kong, teria conseguido um passe para que Cheung pudesse estudar Kung Fu com um grupo de Wing Chun ligado à Hung Mun que, supostamente, seria esse grupo chamado Flor de Ferro, o qual, supostamente, descenderia de um mestre que, por sua vez, era estudante e sucessor de outro mestre que descenderia, em linhagem, diretamente de Chan Biu; mas aqui eu prefiro não entrar em detalhes, pelo menos não agora. Sim, o Wing Chun ensinado por Cheung é muito próximo ao ensinado pelo grupo Hung Fa Yi, mas também existe sim uma distância abissal entre os dois, algo que somente uma pessoa que aprendeu, de fato, o Hung Fa Yi Wing Chun conseguirá entender. Mas para não deixar o assunto não abstrato, eu posso dizer que um dos fundamentos do Hung Fa Yi Wing Chun – o Sap Ming Dim, ou seja, a fórmula do tempo, espaço, energia – não está presente no Traditional Wing Chun, quanto a isso já não teria como dizer se Cheung desconhece a fórmula ou se, conhecendo, decidiu deixá-la fora do currículo de sua escola. Contudo, posso dizer que faço uma boa ideia do porquê de Cheung não relevar essas coisas e apenas seguir dizendo que seu Wing Chun veio simplesmente de Ip Man, o que, absolutamente, não é verdade. Não que ele não tenha estudado com Ip Man, ou o Wing Chun de Ip Man, não há dúvidas quanto a isso. Entretanto, o seu TWC não vem de Ip Man. Veja que estamos falando de sociedades secretas, movimentos subversivos que hoje, muitos deles, enveredaram pelo mundo do crime; mas que mesmo no passado, já existia uma questão seríssima quanto à sobrevivência, por isso muitas regras de segurança e proteção aos grupos, bem como punições severas ao infratores, foram criadas; entre essas muitas regras, havia o juramento de sangue pelo qual passavam todos os que ingressavam em um desses grupos. Esse juramento, anos depois foi substituído pela ‘cerimônia do chá’ nas escolas ou famílias kung fu que não tiveram ligação com as sociedades secretas. Quando falo em ‘juramento de sangue’, não quero dizer que alguém iria fazer um corte em alguma parte de corpo para retirar sangue e selar um acordo, como é descrito em muitas fantasias literárias. Não! Era um ritual composto, entre outras coisas, por 36 juramentos que, se quebrados, atrairia um karma muito mais que sinistro ao infrator. São muitas as punições, também muito sinistras, mas a maior de todas era a que fazia o sangue do infrator, ou traidor, jorrar pelos sete buracos da face; consequentemente, levando-o à morte. Embora saibamos que essas punições mais severas tenham sido ‘abolidas’ no fim dos anos 70, mesmo assim, existe uma aura pesada entorno dessas coisas e eu já vi o bastante disso se provar realidade, bem como ver a reação de chineses frentes a documentos e relatos sobre esses rituais para, ingenuamente, ignorar o que já vi. Se quer saber minha opinião pessoal sobre Cheung e seu Wing Chun, eu acredito que ele está totalmente certo em fazer o que fez e faz. Veja que ele faz seu trabalho sem envolvimento com escândalos. Foi ele que realizou a proeza de coordenar o ‘retorno’ do Wing Chun ao templo Shaolin; isso era algo que outros argumentavam e discutiam em fazer fazia tempo, quando Cheung foi lá e fez. Eu já tive oportunidade de treinar o TWC, gosto muito de muitas das interpretações que fazem sobre a arte e posso dizer que é um ótimo método de Wing Chun. Por fim, sobre as supostas técnicas secretas que Ip Man teria ensinado a poucos: acho tudo isso apenas fruto de propaganda mercadológica.

7 ) Então por que existem uma infinidade de diferentes linhas de Wing Chun vindas de Ip Man, uma vez que seus estudantes aprenderam sob uma mesma fonte ?

Alex Magnos : Bem, existem várias razões para isso, mesmo em linhagens que derivam das sociedades revolucionárias, e as razões são muitas. Por exemplo, sabemos que a Flor Vermelha dispunha de duas abordagens para o ensino de seu kung fu: esses dois métodos são conhecidos como Hai Tung, abordagem sistemática (faz-se necessário levar em conta tudo que foi mencionado anteriormente sobre esse assunto) e Saan Sau, que é uma abordagem não-sistemática, ou seja, mais solta, do ensino de seu kung fu. Isso é de difícil compreensão para os não conhecedores do, digamos, Hung Mun Wing Chun; mas podemos usar um famoso acontecimento do Wing Chun pós-Barcos Vermelhos para melhor ilustrar essa questão: é sabido que Leung Jan, um famoso médico herbalista, aprendeu Wing Chun com dois membros dos Barcos Vermelhos, Leung Yi Dai e Wong Wah Bo. Sabemos também que Mestre Jan deu vasão à duas abordagens diferentes de seu próprio conhecimento; pois durante o tempo em que viveu em Fatsan, a metodologia de ensino e o conteúdo apresentando por Mestre Jan, ficou conhecido com Chin San Wing Chun (corpo de frente), e foi dessa fonte que bebeu Chan Wa Seun, o primeiro mestre de Ip Man. Já quando viveu em Gulau, Mestre Jan apresentou uma abordagem e conteúdo diferente ao transmitir seu conhecimento, conhecido por Pin San Wing Chun (corpo de lado), ou mesmo, Gulau Wing Chun. Claro que existem muitas diferenças entre os dois métodos, sendo que a mais visível é a existência de todos os Kuen Tou (formas de punhos) no Chin San, enquanto que inexistem no Pin San; ao passo que o método Pin San faz uso em larga escala de Saan Sik (técnicas separadas), enquanto que no Chin San, essa prática é mais escassa. Os Kuen Tou, ou como são mais conhecidas, formas, são os livros didáticos do Wing Chun, são nelas que todo o conhecimento sistemático (Hai Tung) é armazenado e preservado, leia-se não só axiomas únicos ao Wing Chun, como também sua bagagem mecânica, conceitual e, logicamente, filosófica. Como exemplo, tomemos o Siu Nim Tau, que desde o nome já carrega um intenso significado filosófico, é a forma que estabelece toda a consciência estrutural tridimensional e de sustentação ao praticante, as outras formas – Cham Kiu e Biu Ji – são apenas extensões para o Siu Nim Tau. Já não existe na metodologia Pin San, uma vez que não fazem uso das formas. Os Saan Sik são caracterizados por técnicas curtas de movimentos ou combinação destas técnicas, cuja função é conectar a compreensão do praticante entre conhecer a arte e aplicar a arte, ou seja, são exercícios soltos que ajudam a despertar a expressão do artista marcial. Com a lacuna obviamente deixa pela forma, os exercícios de San Sik deixam de ser interpretações da forma, passando a ser, dessa maneira, eles mesmos, os objetos de interpretações, ou seja, assumindo, então, a função que naturalmente era da forma; o problema é que Saan Sik não é forma, mas livre, embora, essencialmente, limitado, ao passo que a forma, Kuen Tou, é definida, preestabelecida, embora, essencialmente, ilimitada. Exemplo, a função do Saan Sik é gerar técnicas de ataque e defesa, já a forma não tem essa função, mas proporcionar compreensão de estrutura dimensional (espaço e tempo), poder de gole (energia), e, claro, os meios de utilização (estratégias) desses recursos. Geralmente, essas abordagens são confundidas e é muito comum ver que algumas pessoas estão praticando a forma como se não fosse mais que um saan sik, isso dá vasão ao ambiente que vemos muito comumente no Wing Chun, pois tudo fica à mercê da opinião pessoal de uma pessoa que decide por si só que algo deve ser de um jeito e não de outro e isso se torna verdade para muitos. Falando ainda sobre as duas abordagens usadas para o ensino do kung fu durante o período revolucionário, ou seja, Hai Tung (sistema) e Saan Sau (não-sistema), sabemos que esse último era voltado para o treinamento de tropas, quando o primeiro era voltado para o treinamento de instrutores (digamos assim). Isso porque, diz-se que o soldado da tropa teria necessidade de uma rápida preparação para ir à batalha e realizar essa função, e, mesmo assim, muitas vezes, nem mesmo conseguia deixar o campo com vida, dessa forma, de um ponto de vista prático (Chan Budismo), o soldado somente precisaria saber o suficiente para realizar sua função, ao passo que os instrutores precisaria conhecer coisas muito mais profundas que um soldado, sendo eles seus formadores. Desse ambiente que era realidade no passado e que ainda é aplicado hoje, em escola que tem conhecimento da Flor Vermelha (incluindo a SBA), tivemos dois outros acontecimentos: 1 – a metodologia usada para a formação de um soldado (aquele que iria para a batalha), é chamada Siu Lim Tau, ao passo que a metodologia para a formação de um instrutor (aquele que formaria um soldado), é chamada de Siu Nim Tau. Eu sei que para os praticantes de Wing Chun, essas duas formas de grafar uma mesma coisa: a primeira forma do Wing Chun! Mas, não! Bem, pelo menos no Wing Chun antigo, no Wing Chun das sociedades anti-Qing. Ali, essas duas grafias representavam duas coisas totalmente diferentes, e que ainda são usadas hoje. Eu as uso com meus estudantes! Nesse ambiente, Siu Nim Tau (onde Nim, cantonês, significa ideia ou razão), é a sumarização do Hai Tung (aprendizado sistemático), quando o Siu Lim Tau (onde Lim, cantonês, significa treino ou exercício), é a sumarização do Saan Sau (a preparação física e mental para a ação). Muito do Hai Tung foi mantido entre poucos internos nas sociedades revolucionárias, já muito da abordagem Saan Sau deu origem a muitos outros métodos de kung fu, que acabaram por se tornarem linhagens com o passar do tempo. Outro detalhe que podemos citar, sendo esse exclusivo à linhagem Ip Man, isso já é algo inegável, embora alguns ainda tentem, ingênua e inutilmente, é o fato de que mestre Ip Man treinou com outros mestres, em tempos diferentes, depois do falecimento de seu primeiro professor, mestre Chan Wa Seun; sendo eles: Chan Yu Min (filho de Chan Wa Seun), Ng Jung Sou (estudante de Chan Wa Seun), Yun Kei Saan, Dang Yik e mesmo Chu Chu Man. Em posse dessa informação, é muito fácil deduzir o porquê de existir tantos subsistemas ou mesmo, sub-linhagens, a partir do conteúdo coletado e ensinado por mestre Ip Man. Pois obviamente, turmas diferentes de estudantes sob orientação do mestre, tiveram acesso a conteúdos ligeiramente diferentes. Por isso acho, no mínimo tosco, quando alguém abre a boca para dizer que conhece com exclusividade o sistema Ip Man real ou original e que outros não o são.

8 ) Você foi o maior divulgador e defensor do Ving Tsun Museum aqui no Brasil e hoje caminha sua própria jornada. Por que tomou a decisão de “ cortar ” os laços com a sua antiga família Kung Fu e sedimentar a sua própria ? Nós podemos afirmar que você vinha trilhando o caminho do Dragão, e agora irá percorrer o caminho do Tigre ?

Alex Magnos : Sim, é verdade. Tornei-me estudante de Wing Chun sob orientação do mestre Benny Meng em 2005, ou seja, decidi refazer meus passos, mais um vez, no sistema Ip Man Wing Chun; e, simultaneamente, comecei a dar os primeiros passos no Hung Fa Yi Wing Chun. A partir de 2006, minha organização, SBA, tornou-se a principal promotora do Ving Tsun Museum e seu curador no Nordeste do Brasil e, em 2007, em escala nacional. Toda a divulgação, promoção e apologia que fazíamos em prol do VTM era legítima, pois realmente acreditávamos nessa missão, mas, infelizmente as coisas começaram a mudar e, em 2014, a relação atingiu um ponto onde não havia mais como continuar; o que posso dizer sobre essa questão é que os ideais e visão quanto à arte marcial, metodologia, abordagem mercadológica já não eram mais os mesmos. Ou seja, os ideais e visão sobre como aprender, ensinar, divulgar, etc, o Wing Chun já não estavam mais em harmonia com os do curador do VTM. Frente a esse fato, em Fevereiro de 2015, após conversar com todo os líderes da SBA os quais residem em vários Estados diferentes, unanimemente decidimos seguir um caminho divergente ao VTM, e estamos nesse caminho desde então. E, hoje, quando olhamos para trás e ponderamos sobre a decisão tomada, ainda temos certeza que foi uma decisão mais acertada e que veio na hora certa. Certamente, que a turma do VTM, não gostou muito de minha decisão pelo desligamento, exatamente por isso, vez ou outra deparo-me na internet com algum comentário não tão amigável da parte deles, seja contra mim, seja contra os membros da SBA, o que vejo como atitude infantil e muito antagonista à imagem que eles mesmo tentam vendar na internet. Mas essa já era uma atitude esperada; portanto, na maioria das vezes, apenas ignoramos. Quanto aos caminhos do Dragão-Tigre: bem, esse é um simbolismo remanescente à cultura das sociedades secretas, onde o Dragão simbolizava a pessoa que tinha o conhecimento sobre a arte e possuía a habilidade e experiência necessárias para educar, ensinar a arte, para outra pessoas, ou seja, era o mestre, o sifu; no caso do período revolucionário, o general. Já o Tigre simbolizava a pessoa que, treinada na arte, estava pronta para ingressar no campo de batalha e fazer sua parte em prol do bem comum e do ideal revolucionário. Hoje chamamos o ‘Caminho do Dragão’ todo o tempo dedicado ao processo de aprendizado, ao passo que, o Caminho do Tigre representa o momento de colocar à prova tudo o que foi aprendido. Colocando em outras palavras, uma vez que aprendeu, é hora de testar. Essa coisa de testar foi ideia do curador, ou seja, pessoas ir para competições de kung fu e mesmo MMA, (eu cheguei levar estudantes para competições de Sanda e mesmo alguns estudantes de um dos meus instrutores/representantes lutaram no MMA) mas não vi muito futuro nesse projeto, principalmente porque, em minha visão, seu eu tiver que levar um estudante para um competição envolvendo luta, esse estudante deve, por uma questão de princípio, expressar o que aprendeu na SBA, ou seja, Shaolin Wing Chun, não Muay Thai, Boxe, Jiu Jitsu, etc., não me entenda mal, não tenho nada contra essas artes ou quem as pratica, estou apenas ressaltando uma questão de princípios. Não adianta passar horas a fio treinando mecânicas, conceitos, posicionamentos, ou seja, coisas que são exclusivas e características do Wing Chun e, quando entrar em um ringue, fazer tudo diferente e parecido com qualquer outra coisa, menos com Wing Chun. Uns 2, 3 anos atrás eu lancei uma proposta quanto à possibilidade de treinar gratuitamente interessados em competir pela SBA; tivemos alguns interessados, mas infelizmente alguns não passaram no teste de seleção que eu mesmo apliquei, já outros simplesmente não conseguiram compreender o ensinamento, uma vez que nosso conhecimento está muito além de socos, chutes e sequências de combinações. Entretanto, nossos estudantes que experimentaram tanto o Sanda quanto o MMA, tiveram bons resultados.

9 ) Desde o ano passado ( quando você se desligou do seu antigo mestre ) seu objetivo é expor a arte e seus ” segredos ” da melhor forma possível e à todos os interessados. Você não teme faze – lo ?

Alex Magnos : Sinceramente, não, não temo! Veja, antes de mais nada, uma das maiores hipocrisias que existem impregnadas dentro da comunidade Wing Chun, seja ela internacional ou nacional, é a baboseira que determinados grupos tentam propagar sobre “nós somos todos uma só família”, uma só arte, somos todos irmãos! Isso acontece apenas em tese, porque a realidade é outra totalmente diferente. Outra coisa que muito me irritava quando ainda estava na organização anterior, era o fato de que, mesmo que a organização encarasse o Wing Chun como um produto de mercado, e, como tal, precisava ser vendido, a mesma organização impunha uma regra que impedia que o produto fosse exposto ao grande público, pois a resolução da organização era que o público deveria ser ensinado a comprar o produto, mesmo sem conhece-lo, o que é algo absolutamente sem noção! Quem em sã consciência vai comprar algo sobre o qual nada conhece? Eu não! De forma nenhuma! Essa é uma atitude ridícula e um plano de vendas totalmente suicida, para dizer o mínimo. Bem, como já disse anteriormente, eu não vejo a arte marcial Wing Chun como um produto de mercado, que precisa ser vendido, custe o que custar! Desde o momento em que comecei a aprender essa arte lá nos distantes anos 80, eu quis aprendê-la para mim, para conhecimento próprio, para benefício próprio, isso é muito diferente da maioria dos praticantes de atualmente, pois as pessoas iniciam hoje já pensando em começar a ensinar um mês, as vezes uma semana depois (essa é, sem sombra de dúvidas, uma das várias razões que fazem a qualidade do Wing Chun ter caído drasticamente nesses últimos anos); não preciso ir muito longe, aqui mesmo no Ceará, há diversos ‘instrutores’ de Wing Chun que poderiam ser quaisquer coisas, menos instrutores de Wing Chun, isto é, a menos que não levemos em conta a qualidade do ensino e da arte. Mas que não se incomodar em comprar gato por lebre, sinta-se à vontade. De qualquer forma, o Wing Chun é uma arte marcial tão profunda e complexa que teríamos que ir realmente muito longe para expô-la em sua totalidade, e mesmo que assim o fizéssemos, seria necessário um legítimo toque de genialidade da parte de qualquer que tentasse aprender seriamente a arte sem a orientação direta de uma pessoa que já fosse experimentada no assunto. Sabe, eu ouço muitas pessoas dizerem que o Wing Chun é algo simples. Sim, é verdade! O problema é que essas pessoas não fazem ideia do que o ‘simples’ aí representa; da forma que falam, elas deixam a entender que a simplicidade é o caminho, quando não é, longe disso, o caminho é complexidade (Hai Tung / Sistema), ao passo que a simplicidade (expressão individual / arte) é o resultado final. Sobre isso costumo comentar com meus estudantes que o Wing Chun é como um iPhone, quando visto por fora seu formato é bem simples, enxuto, elegante; seu manuseio também é bem simples, prático, intuitivo; mas a maioria dos usuários não faz ideia da complexidade da arquitetura de software e hardware que estão inseridos dentro daquela caixinha fina. Assim é também o Wing Chun, sua simplicidade e elegância são resultados de uma profundíssima complexidade.

10 ) Sua escola, a SBA – Shaolin Boxing Association, não é composta apenas por você, mas por todo o conjunto de seus estudantes ( diretos ou indiretos ) e seus instrutores, como você mesmo costuma dizer. Como consegue manter essa “ irmandade ” entre os seus e o “ clima familiar ” em suas escolas ?

Alex Magnos : Antes de tudo, a harmonia e ambiente de irmandade é mantida por meio da clareza e honestidade entre os membros. Assim as decisões tomadas em prol da SBA são discutidas entre todos os líderes. Esses líderes são todos os instrutores e / ou estudantes que compartilham do mesmo ideal que tenho para a SBA e para o Wing Chun como um todo, bem como compartilham a mesma visão quanto à arte. Colocando de outro modo, não existem segredos na SBA! Quando estávamos nas organizações anteriores, eu sempre era requisitado a manter segredo sobre decisões, informações e mesmo métodos de treinamento. Isso muitas vezes era exigido simplesmente por uma questão financeira, ou seja, se não paga, não tem acesso à informação! Tremendo modelo de “família Kung Fu” esse aí, diga-se de passagem! Então, à medida que fui me decepcionando com a liderança da organização, comecei a compartilhar com membros-líderes da SBA; e essa foi uma decisão acertadíssima, pois logo depois que tomamos a decisão de desligamento em 2015, ocorreu uma tentativa de voltar meu estudantes contra mim. Contudo, eles todos já estavam cientes de tudo. De um ponto de vista curricular, todos os membros da SBA, do mais novato ao mais antigo (alguns estão comigo por mais de 10 anos), sabem o que irão aprender, sejam eles simples entusiastas, praticantes hardcore, instrutores que compartilha os ideais da SBA ou instrutores independentes. Não há segredos! Todos são expostos à informação, mesmo que essa informação seja abordada como ensino em profundidade a cada um apenas no momento certo. Por exemplo, um novato de poucas semanas tem acesso, a titulo de conhecimento prévio ou simples curiosidade, à informação que somente é abordada em profundidade nas etapas finais do treinamento. Quando eu dou aula, dou aulas para quem estiver presente. Nunca acontece de estar dando aula, digamos, sobre Biu Ji e afastar os estudantes de Siu Nim Tau que estiverem presentes. Quando isso acontece, mesmo que digam asneiras como “ainda não é o momento para você aprender sobre isso, pois é algo avançado” ou “isso não é para o seu nível ou faixa” ou qualquer quer outra baboseira do tipo, a verdade é que, a razão dessa separação ou apelo a “segredos” é sempre financeira. Outra atitude importante que contribui para a irmandade e harmonia na SBA é que, embora eu seja o instrutor-líder, eu não interfiro nas escolas de meus estudantes/representantes, seja em seus negócios, seja em como lidam com seus próprios alunos, além de dar liberdade total quanto a melhor forma que julgam ao fazer uso do currículo ao ensinar a seus próprios estudantes, além de não impedi-los de interagirem com outras artes marciais; e, além disso, pessoas são livres para ingressar e deixar a SBA a qualquer momento sem correrem o risco serem rotuladas de traidores e transformados em inimigos pela organização que acabaram de deixar, pois acreditamos que todos tem o direito nato de ir e vir livremente. Eu particularmente acredito que se alguém aprendeu verdadeiramente alguma coisa de uma arte marcial, o que essa pessoa aprendeu é, única e exclusivamente, dela e de mais ninguém, e nem um mestre, organização, família marcial, irmandade, sociedade, ou o que seja, tem o direito de dizer o contrário ou impedi-la de usar seu conhecimento para o que quer que seja. Por fim, a SBA não é uma empresa, ou uma pseudo família kung fu, mas uma verdadeira irmandade. Aqui estamos entre amigos.

11 ) Você já demonstrou não ter nenhuma intenção de ficar rico com a arte, por não vê – la como um produto de mercado. Até onde pretende chegar com a sua escola, a SBA – Shaolin Boxing Association ? Também pretende adquirir alguma nova representação ou seguirá sozinho ?

Alex Magnos : Pretendo chegar até onde os interessados estiverem, essa é uma verdade imutável! Não diríamos novas representações, acho que já ficou provado que temos informação e conhecimento o bastante para seguirmos nosso próprio caminho, caminhando com nossas próprias pernas. Mas mesmo assim, eu ainda tenho planos de interagir com outros mestres internacionais. Ainda quero aprender um pouco mais com a experiência desses mestres. Por isso tenho mantido contato com alguns mestres na Ásia (Hong Kong e China continental) e Europa; porém, ainda não é o momento para vir a público com esses planos.

12 ) Fale-nos um pouco mais sobre a expansão da sua escola. Em quais estados possui representantes ? Há planos de expansão para outros países ? Existe algum sistema de treinamento intensivo para quem more distante e esteja interessado em praticar com vocês ?

Alex Magnos : A expansão da SBA começou em 2006, quando estabelecemos nosso primeiro grupo filiado no Estado de Sergipe (esse grupo não está mais ligado à SBA desde 2012); hoje além do Estado do Ceará, onde fica nossa sede (Fortaleza), a SBA está presente nos Estados de Pernambuco: Recife, com Sifu Manoel Ramos que, além de ser um dos meus melhores estudantes, é dono de uma excelente expressão da arte que lhe tenho ensinado nestes últimos cinco anos, juntamente com Sifu Manoel Ramos, tenho ainda outros dois estudantes/representantes diretos, Sifu Damocles Silva e Sifu Carlos Fonseca, e, por último, em Olinda, com o instrutor Claydson Maques; as filias do interior no Ceará, estão sob liderança do Sifu Claudio Oliveira e do Sifu João Batista, ambos sendo dois dos meus estudantes mais antigos; estamos ainda em Santa Catarina (Tadeu Jr), Rio de Janeiro (Hugo Lorega), São Paulo (Gilsmy Boscolo), Bahia (André Rocha), Paraíba (Felipe Barbosa), Rio Grande do Norte (John Flávio), além de alguns estudantes que estão também em processo de certificação de instrutores e conduzem classes em Fortaleza, como Jésus Dias e André Moreira. Recentemente, estabelecemos com grande sucesso duas filiais nas cidades colombianas de Bogotá (Andrés Guerrero) e Cali (Cezar Azcarate), e estamos analisando convites para outros países sul e centro-americanos, bem como existem possibilidades para o Oriente Médio e Europa, mas ainda é muito cedo para falar sobre isso. Sim, nosso programa de treino, tanto para instrutores quanto para interessados que morem distante da sede em Fortaleza, é bastante intensivo, mas não é algo padronizado, por isso sempre é necessário um planejamento entre o interessado e a SBA. Mas como é de nosso interesse, sempre procuramos facilitar e ajudar aos que nos procuram com esse intuito de treino à distância. Sobre essa questão de aprendizagem à distância, tenho algo a falar, já venho trabalhando por algum tempo no desenvolvimento de um recurso online para compartilhar meu conhecimento em Wing Chun a quem tiver interesse. Tenho um grupo do Facebook no qual constantemente publico videos de minhas aulas em Fortaleza ou de seminários que ministro, mas esse projeto de ensino online terá um site próprio onde disponibilizarei vídeos exclusivos apresentando cada exercício de todo o sistema, explicados em detalhes, bem como teorias e conceitos. O site ainda está em desenvolvimento.

13 ) Eu tive a oportunidade de ter “ contato real ” com a técnica ensinada por você e pude constatar que a mesma era superior à tudo que era oferecido em termos de Wing Chun no Brasil até então. O que diria para aquelas pessoas, as quais insistem em afirmar que “ apenas ”as suas próprias técnicas estão “ corretas ” e as demais escolas “ erradas ”, uma vez que estamos todos inseridos num universo tão diversificado quanto o do Wing Chun ?

Alex Magnos : Bem, como ensina a filosofia Chan, certo e errado é meramente uma questão de ponto de vista, e, por assim dizer, todo ponto de vista é meio que limitado. Uma das razão que sempre busco ter contato com outros métodos ou linhagens de Wing Chun é justamente porque somente o contato real, somente a experiência real pode proporcionar algum conhecimento. Qualquer praticante que fale sobre o Wing Chun que ensino sem ter tido uma experiência real com ele, está se colocando na mesma situação de discutir sobre unicórnios ou o sexo dos anjos. Wing Chun foi uma arte marcial absolutamente completa no passado, mas que começou a ser desmembrada a partir da queima de Shaolin e, subsequentemente, vem sendo despedaçada até os dias de hoje. Quanto mais há separação ou divisão de linhagens, sistemas, subsistemas ou famílias, mas desmembrada a arte se torna; portanto, é hilário quando vejo na internet, pessoas que apegadas a uma linhagem ou sub-linhagem, com uma visão unilateral da arte, afirmando que suas linhagens são completas. Não são mesmo! Somente uma pessoa que estudou os aspectos da arte em duas diferentes eras é poderia dizer algo parecido, e mesmo assim, precisaria ter cuidado em dizer que poderia provar o que afirma.

14 ) Quando em conversas com mestres de outras famílias e linhagens Wing Chun, sou sempre questionado sobre o que vem à ser a “ mudança de músculo para tendão ” e a “ lavagem de medula óssea ” ? O que poderia nos falar sobre esses conteúdos ?

Alex Magnos : Essa é uma excelente pergunta. Esse conhecimento faz parte da gênesis do Shaolin Kung Fu no Mosteiro Shaolin Song San, Norte da China, afinal de contas, tradicionalmente, sua criação ou, melhor dizendo, descoberta é creditada a Daat Mo, o famoso Bodidarma. São chamados pela literatura especializada de “Os Dois Clássicos de Shaolin: o Yijin Jing (mandarim) ou Yigan Ging (cantonês), significa “Mudança de Musculo para Tendão”, e o Xi Sui Jing (mandarim) ou Sai Suei Ging (cantonês), significa “Lavagem da Medula Óssea”. São antiquíssimo e avançadíssimos métodos de Hei Gung (Qigong) para desenvolvimento e manutenção da saúde, algo como verdadeiros elixires da longevidade, pode-se dizer, mesmo a ‘pedra filosofal’ do Shaolin Kung fu; contudo, sua aplicação não se limita à saúde, mas também uma extraordinária fonte de desenvolvimento de poder (energia / força) marcial, por isso, não é nenhuma coincidência que esses ‘Dois Clássicos’ façam parte do fundamento, da essência última do Wing Chun. Depois de absorver os Dois Clássicos, preservados no Wing Chun da chamada ‘Bandeira Preta’, depois adquirir as habilidades e benefícios proporcionados por eles, eu li diversos livros sobre o assunto, e mesmo tive a oportunidade de receber um treinamento sobre os “Dois Clássicos” no Templo Shaolin do Norte, quando estive na China em 2014; contudo, mesmo em Shaolin, o conhecimento não é o mesmo que temos no Shaolin Wing Chun. Muitos aspectos dos Dois Clássicos sobreviveram fora da sociedade secreta e hoje são encontrados presentes em diversas artes marciais chinesas, incluindo Taiji, Bagua, etc, mas em todas as oportunidades que tive para interações, percebi que eram ligeiramente diferentes, bem como algumas peças estavam ausentes, dos Dois Clássicos presentes no Shaolin Wing Chun. Não estou dizendo que os outros estão errados, apenas que são partes de um todo maior, e eu estou totalmente disposto a sentar e conversar sobre os assunto com quem também tiver um bom conhecimento na área. Para quem ainda não consegue conectar esses Dois Clássicos com o Wing Chun, basta lembrar que o Wing Chun é uma arte marcial cujos seus ‘segredos’ são escondidos em plena vista. Acredito que muitos dos praticantes de Wing Chun ouviram sobre uma velha descrição fantástica sobre a composição do corpo de um conhecedor da arte. A descrição que o corpo do praticante é formado por uma cabeça de vidro, tronco de vagem, braços e pernas de cordas, com mãos e pés de pedra ou ferro; então, essa composição é uma alusão direta aos Dois Clássicos no Wing Chun. Quando é dito ‘braços e pernas de cordas’, isso diz respeito à mudança de músculo para tendão, ou seja, à habilidade adquirida através do Yijin Jing com a qual o praticante deixa de gerar força (qualquer que seja ela) com o músculo, passando a fazê-lo usando os tendões do corpo; em um nível ainda mais profundo o poder é gerado diretamente da medula óssea! O resultado é impressionante. Quando é dito ‘mãos e pés de pedra’, isso diz respeito à habilidade adquirida com os Dois Clássico que faz com que nossa energia ou poder de impacto / golpe, não venha do nosso tronco, quadril ou ombro, mas que é gerada na ponta de nossa arma natural (mão ou pé), isso, em muitos casos, é o que chamamos também de desapego. Nem preciso dizer que esse é um conhecimento alienígena para a maioria dos métodos de artes marciais por aí. Como os Dois Clássicos são métodos de Hei Gung (Qigong), eles nos apresentam também uma nova visão sobre o que é considerado ‘externo’ e ‘interno’ para nosso conhecimento de arte marcial. Dessa forma, seguindo os Dois Clássicos, primeiros somos apresentados a um treinamento inicial, preparatório, esse é o nível superficial (pele e músculo), em seguida seguimos para mudança do uso do músculo, para uso do tendão (isso é o que consideramos como treinamento externo), em seguida passamos para a lavagem da medula (osso e sangue – isso é o que consideramos como treinamento interno); claro que há muito mais sobre esse assunto, mas não há como entrar em maiores detalhes sobre o assunto sem que cada vez mais pareça abstrato aos leigos. Esse é um conhecimento muito antigo e avançado, mas que fez toda a diferença aos meus estudantes que já aprenderam. Uma coisa posso dizer, dificilmente alguém poderia expressar a ‘força-relaxamento’ do Wing Chun sem o conhecimento dos Dois Clássicos.

15 ) Muitas escolas sequer ouviram falar sobre os conceitos técnicos de “ tempo, espaço e energia ” e mesmo a realidade do “ céu, homem e terra ”. Essa perda de informação ao logo da história pode ter contribuído para a ineficiência técnica de algumas escolas hoje em dia ?

Alex Magnos : Sem a menor dúvida! Apesar desses conceitos serem antigos os praticantes de Wing Chun dos dias de hoje não os conhecem, e se algum tem falado desses conceitos ultimamente, foi por tê-los emprestados das linhagens antigas e menos populares, tais como Flor Vermelha, Bandeira Preta, e mesmo, Chi Sim. Quanto ao preceito – Tempo, Espaço, Energia –, gostaria de explicar o seguinte: Tempo, não tem nada a ver com velocidade, mas diz respeito a ‘Estratégias de Posicionamentos’; Espaço, não tem nada a ver com distância, mas diz respeito a ‘Estratégias de Estruturas Tridimensionais’, já Energia pode ser explicada de várias formas, em um primeiro momento, energia será um resultante da soma de Tempo-Espaço, mas com o aprofundamento do conhecimento do praticante, energia passa a ser algo muito além dos limites de Tempo-Espaço, entrando em um nível ou estado de compreensão que, nas artes marciais verdadeiramente tradicionais de Shaolin, é chamado Wuji (mandarim) ou Mou Gik (cantonês), um conceito que também vem do Budismo Mahayana, como Nirvana, significando “último; ilimitado, infinito, nada, vazio absoluto”, aqui estamos já falando de energia como compreendida pelo segundo clássico, Sai Suei Ging – ‘Lavagem da Medula Óssea’, nessa etapa do campeonato, praticamente estamos entrando para uma compreensão do Wing Chun nível de física quântica.

16 ) Quais os seus horários e locais de aulas ? Como as pessoas interessadas ( da sua ou de outras cidades ) poderão entrar em contato com você ?

Alex Magnos : Hoje, em Fortaleza, somente dou aulas dois dias por semana, Terças e Quartas, das 19h30min às 21h00min, na seda da SBA, que também é uma academia de treinamento funcional camada D.A. Na verdade, em Março de 2015, eu decidi parar de dar aulas para iniciantes, pois já tenho vinte anos dessa atividade. Minha intensão era continuar dando aula somente para estudantes que tivessem pelo menos dois anos de treino comigo e os demais, incluindo novatos, ficaram sob orientação desses meus estudantes mais avançados. Isso aconteceu por todo o ano de 2015. Mas no início desse ano, após vários convites do proprietário da D.A., eu resolvi voltar a aceitar novatos como estudantes. Paralelamente, passei a dedicar tempo para desenvolver alguns projetos que tenho quanto a produzir alguns livros sobre meu conhecimento de Wing Chun; já estou escrevendo um destes que tratará sobre Siu Nim Tau de uma forma que nenhum outro livro anterior o fez, bem como já tenho os esboços de dois outros, um tratando da história do Wing Chun e suas controvérsias, e o outro tratará sobre Wing Chun e filosofia Chan; mas tenho intenção de abordar praticamente todo o Wing Chun em livros futuros. Melhor forma de contato comigo, sobre Wing Chun é através do site oficial da SBA (shaolinwingchun.com.br), da fanpage SBA no facebook (@sba.mma) ou atrás de um dos meus perfis no facebook (um pessoal e outro somente para artes marciais).

17 ) Para finalizar deixe uma mensagem para os admiradores do Kung Fu em geral e do Wing Chun em particular ?

Alex Magnos : Sim, aos que realmente querem aprender Wing Chun: não se deixem limitar por preconceitos, por opiniões unilaterais de escolas, ou professores, abram os olhos, olhem além de sua zona de conforto. Procurem ter uma experiência real com outros métodos que possam encontrar. Nenhuma família kung fu, nenhuma escola ou mestre possui o conhecimento total e completo dessa fantástica arte marcial Wing Chun, mas esse conhecimento existe e está por aí, fragmentado, basta que as pessoas consigam romper os grilhões do preconceito, do medo e da ganância, para que possam começar a enxergar uma realidade que poderá mesmo ser ilimitada. Wing Chun não é um aglomerado de técnicas de ataque e defesa, mas uma profunda filosofia Chan Budista que pode transformar a vida de muita gente.