quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Guerreiras pacíficas praticam Kung Fu para combater o preconceito no Afeganistão



O Afeganistão, cuja capital é Kabul, é um país situado no centro do continente asiático.
Faz fronteira com o Turcomenistão, Uzbequistão, Tadjiquistão, China, Paquistão e Irã.

Desde a Antiguidade, o Afeganistão tem sido objeto de invasões e conquistas. Esse fato ocorre em razão de sua localização geográfica privilegiada, pois é um ponto estratégico para as relações comerciais e uma área estratégica de fundamental importância para se estabelecer um certo domínio na Ásia Central, segundo os estrategistas.

Por ser um país que faz parte da rota da seda e devido a proximidade com a Ìndia eles praticam alguns estilos de dhanurvidya (artes marciais indianas) e também sabemos que há muitos praticantes de Kung Fu por lá.

Atualmente jovens mulheres são vistas praticando Shaolin Kung Fu nas colinas cobertas de neve na oeste de Cabul. A atividade parece surreal em um país tão conservador.

Mas nem sempre foi assim.
O advento dos talibãs no Afeganistão trouxe consigo uma série de severas restrições às mulheres naquele país. Entre estas podemos citar : o requisito de usar um véu, a proibição do uso de cosméticos, falar com homens estranhos, trabalhar longe de casa e até mesmo rir alto.

Os esportes também se tornaram tabu: de acordo com o Talibã, o exercício físico poderia prejudicar o hímen e, se uma mulher solteira não fosse virgem, seria uma grande vergonha para ela e sua família.

Apesar da situação constrangedora para as mulheres no Afeganistão, as coisas estão mudando gradualmente e algumas melhorias já estão sendo implantadas para os direitos das mulheres no país.

Um dos sinais dessa melhora é o funcionamento do Shaolin Wushu Club em Cabul. O clube foi fundado por Sima Azimi, de 20 anos.

Ela nasceu no Afeganistão Central, mas depois foi para o Irã, onde viveu durante três anos e estudou artes marciais, ganhando medalhas de ouro e bronze em várias competições de Kung Fu.

Ao retornar ao Afeganistão, Azimi decidiu abrir um clube feminino de lutas.

“Meu objetivo é ver como minhas alunas participam e vencem nas competições internacionais, conquistando medalhas para seu país”, disse ela.

“Eu trabalho com garotas afegãs para ajudá-las a expandir seus horizontes e ampliar seus leques de oportunidades. Estou feliz em perceber que elas estão construindo seu caminho, como as demais mulheres ao redor do mundo”, acrescentou Azimi.

O pai de Azimi apoia sua iniciativa, embora ele se preocupe com a segurança de sua filha em meio a ameaças.
Apesar de as artes marciais no Afeganistão serem bastante populares, as mulheres devem defender o seu direito de participar delas. “Os pais de alguns de minhas alunas não queriam aceitar o fato de que suas filhas estão envolvidas com o Wushu, mas falei com eles sobre isso, tentando convencê-los”, disse Azimi.

Além dos desafios do dia a dia, as meninas do clube Shaolin continuam a enfrentar novas ameaças. “É difícil para nós sair e ir ao ginásio”, disse Zahra Timori, de 18 anos.

Muitas pessoas não aprovam o que as meninas fazem, mas as jovens guerreiras tentam não prestar atenção a essas ameaças e continuam em sua prática.

Ainda de acordo com as garotas, os esportes tornaram a situação no Afeganistão mais pacífica. Elas enfatizam que aprender a arte marcial Shaolin é para sua defesa pessoal e não para agredir alguém.

Para essas meninas, as prioridades são auto-proteção e ter um corpo e um espírito saudáveis. Elas praticam a arte marcial nas colinas cobertas de neve fora de Cabul, ou então em um salão de esportes onde o cartaz de um famoso desportista afegão, Hussein Sadik, está pendurado para inspirá-las.

Além das questões de segurança, o clube também tem dificuldade em receber todos os inventários e equipamentos necessários para o treinamento. Azimi teve que trazer as espadas do Irã e um alfaiate especial em Kabul costurou o uniforme para os membros do clube.

O custo das aulas varia de US $ 2 a US $ 5 por mês. Azimi espera que mais meninas se juntem ao clube e, juntas, possam lutar e proteger os frágeis direitos das mulheres no Afeganistão.

Num país onde a prática desportiva ( ainda ) é muito restritiva para as mulheres, este grupo de jovens está realmente fazendo a diferença.

A modalidade de Kung Fu ensinada por Azimi é chamada de Wushu.

Os estilos de Wushu modernos foram criados pela República Popular da China ( RPC ) para unificar a prática do Wushu naquele país.

O Wushu já faz parte do programa oficial dos jogos asiáticos desde 1990. A modalidade também já foi disputada nas Olimpíadas de Beijing em 2008 e poderá voltar à ser incluída nos jogos olímpicos de 2024.

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Foto : – Em Cabul, um grupo de mulheres pratica Wushu, uma arte marcial com origem no Kung Fu tradicional chinês que mistura o boxe daquele país com o controle de espadas numa coreografia acrobática.

*Texto do colaborador Oriosvaldo Costa

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