Daniel Severn começou sua carreira na luta olímpica no ano de 1969. Ele ganhou seu primeiro campeonato nacional em 1972, começou a lutar internacionalmente em 1976 e desde então nunca mais parou de lutar. Em 1994, ao invés de abraçar uma rotina mais tranqüila no seu lar em Coldwater, Michigan, ele participou da quarta edição do Ultimate Fighting Championship, onde além de ganhar sua alcunha de “The Beast” (“A Fera”) ele chegou às finais do torneio enfrentando o favorito, o lendário Royce Gracie. Mesmo sem ter ganhado o evento, ele continuou a participar de eventos de “Vale Tudo”, ganhando três títulos no UFC. Ainda hoje, aos 53 anos, o homem continua a fazer sua mágica em ligas menores de MMA dentro dos Estados Unidos. Ele construiu uma carreira aterrorizando oponentes antes de Randy Couture ou Brock Lesnar aparecerem. Um lutador olímpico, um wrestler profissional e um lutador de MMA, “A Fera” me concedeu uma entrevista por telefone, onde me contou sobre sua carreira, seus desafios e suas opiniões sobre o MMA e os primeiros anos do “Vale Tudo”.
Blog Derradeiro: Sr. Severn, já se passaram quase 17 anos desde que você estreou no UFC 4. Você começou em com trinta e cinco anos e agora, com mais de cinqüenta, você continua subirr ao octógono para enfrentar outros oponentes. O que é que ainda te impulsiona a ser um lutador de MMA?
Dan "The Beast" Severn: Minha vida sempre foi de definição e cumprimento de metas Quando eu comecei minha carreira lutando na jaula eu só tinha a intenção de fazer um evento. Assim, mesmo agora, quando você me diz se foram 17 anos eu fico pensando "Sério? Já faz tanto tempo assim?" Porque eu não sou de sentar para pensar sobre esse tipo de coisa, eu sou uma pessoa muito ativa, eu faço coisas constantemente. Eu tornei público agora que eu vou parar com a minha carreira de lutador de Mixed Martial Arts até o final de 2012. Mas tenha certeza eu não desisti de competir, eu posso estar fazendo outra coisa, pode ser shuffleboard de full contact no círculo de idosos (risos).
BD: Como você entrou no UFC?
Severn: Eu fui substituir alguém no último minuto. Quando eu estava fazendo minha entrevista com Art Davie, o co-proprietário com Rorion Gracie do UFC naquela época, era ele quem casava as lutas. Ele me disse: "Qual é o seu cartel de luta profissional?" e eu disse: " Eu não tenho um". Então ele disse:" Qual o seu cartel de luta olímpica? " e eu disse que não tinha isso também. E ele falou : “O que você sabe fazer?”, fazendo pouco de mim. Eu era esse substituto e eu tinha uma série de obrigações. Quando terminei essas obrigações eu treinei durante cinco dias, uma hora e meia por dia. Não treinei uma finalização, um único ataque. Basicamente, era eu contra três caras dentro de um ringue de wrestling profissional e enfrentei um de cada vez. Eles usavam um par de velhas luvas de boxe e tentar acertar socos e pontapés mim. Então, eu só praticava evitando ser atingido, então, fazer o clinche, quedas, eu simplesmente fazia movimentos de luta olímpica, fazia o jogo ilegal e, então, meus parceiros de treino gritavam de dor. Esse foi o meu treinamento.
BD: A princípio, os lutadores eram divididos em duas categorias, grapplers ou strikers O que mudou no seu jogo de luta desde o início de sua carreira no MMA?
Severn: Sim, você está certo, você era classificado como um striker ou como um grappler, e eu era o atleta mesmo unidimensional. Eu continuo a trabalhar no meu jogo em pé, ainda é a minha área mais fraca, mas eu continuo a trabalhá-la, ela melhorou imensamente desde quando comecei. É algo que os próprios atletas em geral adquiriram maior qualidade, em todas as partes.
BD: Mas o que você faz agora, você tem treinamento de boxe, ...?
Severn: Eu faço tudo. Quando terminarmos esta entrevista eu vou para uma aula misturada, onde eu vou treinar combinações de golpes, clinches, quedas, pressão nas grades da gaiola, treinamento dentro da guarda, cruzamento de guarda, etc. Nós trabalhamos um pouco de tudo.
BD:. Neste exato momento você tem um registro de 99 vitórias-18 derrotas-7 empates, estou correto?
Severn:. Sim, se você diz isso (risos) Eu acho que o registro na internet está provavelmente bem próximo do meu cartel, mas podem estar faltando provavelmente entre umas 10 a vinte e poucas lutas, algo assim. Quando que a Sherdog, quando que a Full Contact Fighter, quando é que estes sites passaram a existir? O UFC começou em dezembro de 93, a maioria dessas empresas só vieram uns quatro anos depois, tudo o que fizeram foi conferir o que aconteceu no UFC.
BD: Mesmo você não esteja lutando contra os grandes nomes, como o Minotauro ou Cain Velasquez, você provavelmente tem o melhor cartel de todos os lutadores que se aventuraram no MMA/Vale Tudo no início dos anos noventa. Você nunca teve mais de duas derrotas seguidas.
Severn: Sim, certo, mas neste momento eu tenho duas derrotas seguidas.
BD: Mas você nunca teve mais do que isso, e eu acredito que você vai ganhar sua próxima luta (nota: eu sei, sempre o fanboy ...)
Severn: Eu não sou de dar desculpas, mas nas duas últimas lutas, o que muita gente não sabe, você é provavelmente o primeiro a saber sobre esse tipo de coisa, é que meu pai teve problemas de saúde neste último ano. Por três meses e meio eu passei uma grande parte do meu tempo lado dele, ajudando com os seus cuidados do dia-a-dia. Em vez de mandá-lo para um instituição, como um hospital ou deixá-lo com acompanhantes, cercado por pessoas estranhas, meus irmãos e eu decidimos montar uma enfermaria para o meu pai dentro de sua própria casa. Havia ainda os enfermeiros que viriam frequentemente para verificar seus sinais vitais e coisas dessa a natureza, mas passei muito tempo lá. Na verdade eu dirigia 217 quilômetros em um dia para estar com ele. De todos os meus irmãos e irmãs era eu quem tinha a rotina mais adaptável, porque todos eles têm normais vidas, empregos normais, trabalham durante o dia e só podiam prestar ajuda à noite ou durante os fins de semana. Então eu fui eleito o acompanhante principal. Eles ainda disseram que se um dia estivessem na mesma situação que gostariam de me ter como acompanhante, e eu simplesmente disse a eles "não!" (risos) "Eu só fiz isso dessa vez". Seu memorial foi em 4 de julho, ele faleceu cerca de 30 dias antes disso. De qualquer forma, o objetivo da história, sobre as duas últimas derrotas, é que eu não fiz nenhum treinamento, eu não estava exatamente no melhor estado mental e eu ainda fui lá, fiz minhas lutas. Eu não disse a ninguém sobre isso e eu aceitei as derrotas, porque foram derrotas, mas eu garanto isso, eu não acho que haveria um ser humano sequer que teria realmente subido lá (no octógono).
BD: Então você passou por esse problema com seu pai, que aconteceu muito próximo daquelas duas lutas, mas antes disso você havia enfileirado dez vitórias consecutivas. Você acha que as revistas, os fãs te dão o reconhecimento que merece?
Severn: Não, eu diria que um monte de fãs mais jovens nem sabem quem eu sou.
BD: Mas em 2005 você se entrou pro Hall da Fama do UFC ...
Severn: Sim, mas a maior parte da audiência passou a assistir ao evento (o UFC) a partir de janeiro de 2005, que foi quando o UFC foi fez um acordo com o Spike TV e lançou o programa "The Ultimate Fighter", um produto gratuito para milhões de pessoas assistirem, foi, provavelmente, o seu maior elemento de marketing. Porque por mais que o Dana White possa não apreciar as comparações entre o wrestling profissional e o MMA, a realidade é a seguinte: o que é wrestling profissional? É só um show de TV semanal que se condensa em um pay per-view mensal e esse é o mesmo veículo que tem sido utilizado no mundo das Mixed Martial Arts. Não me interpretem mal, é um grande plano de negócios, mas a maioria de seus fãs só estão lá desde janeiro de 2005 . Eles não sabem o que "Não há limites" significa, não sabem quem era Oleg Taktarov ou Marco Ruas ou Keith Hackney, eles simplesmente não conhecem esses nomes porque eles não estavam assistindo naquele momento (na década de 90) e é um período que foi perdido, a menos que você seja um " fã hardcore". Não há muito desses "fãs hardcore", há mais do "novatos empolgados" que assistem ao evento agora. Apenas “fãs hardcore” navegam na internet para procurar por esses lutadores ou sequer fazem ideia dos primeiros eventos.
BD: O que você acha que poderia resolver esse problema? É claro que as pessoas que estão assistindo agora, que admiram figuras como Anderson Silva ou Rashad Evans, devem a pessoas como Royce, Don Frye e você?
Severn: Mas eles não sabem disso. Se você usar palavras como "No Holds Barred" eles diriam: "O que você está falando?". Existens alguns livros que contam sobre os primeiros dias de UFC, mas são poucos livros. Eu tenho uma idéia do que poderia ser feito, vamos usar Keith Hackney como um exemplo; se fossem fazer um evento em pay-per-view e durante ele, vamos dizer entre o evento semi-principal e o principal eles dissessem: "se você olhar para os telões ..." e depois, por 30 a 45 segundos, eles poderiam mostrar destaques de Keith Hackney colocando-se contra Emmanuel Yarbrough, um lutador de sumô com 279 quilos, com Hackney pesando na época 90 quilos. Eles poderiam dizer algo como "esta é a era do "No Holds Barred ". Então, na hora certa, o Keith poderia entrar lá (no octógono) e Dana White ou quem quem quer que fosse poderia apertar a mão dele e eles poderiam anunciar: "queremos prestigiar um dos verdadeiros pioneiros do esporte, vamos dar um grande aplauso para Keith" O Matador de Gigantes "Hackney". Teriam contado sua história em menos de um minuto. E este é apenas um exemplo do que eles poderiam fazer. Eles já poderiam estar fazendo isso, posso estar errado, porque eu não passo muito tempo na internet ou, talvez eles tenham no site do UFC tudo isso categorizado lá mesmo. Eu não sei porque eu não tenho visitado a página. (Nota: Não está lá. Mesmo os membros do Hall da Fama têm no seu perfil as informações sobre suas idades e cartéis desatualizadas.)
BD: Você é um personagem jogável no game UFC 2010 Undisputed. O que significa para você ser um personagem de video game? Você acha que ele pode apresenter a um público mais jovem quem é você?
Severn: Claro, é um veículo, porque os jogos de vídeo game, especialmente jogos de luta interativo, são muito populares entre os jovens. Com a popularidade do UFC um monte de gente vai querer jogar, por isso agora, quando forem selecionar um personagem especial como Royce Gracie ou eu mesmo, eles vão, obviamente, fazer perguntas, como "quem é esse cara?"
BD: Qual é o seu maior desafio hoje como lutador?
Severn: (risos) Talvez seja o fato de que o Pai Tempo está me dizendo para seguir em frente e fazer outras coisas. (risos) Eu sei que os meus melhores dias estão para trás, eu ainda dependo muito das minhas habilidades de luta agarrada. Então mesmo eu tentando atacar, eu fico mais confortável trabalhando de perto ao invés de dar-lhes a distância para trabalhar sua mágica. Eu sei qual é o meu forte e eu vou tentar usar o meu melhor em todas as ocasiões.
BD: Mas isso é uma coisa muito importante, o Royce Gracie disse em uma entrevista recente que cada lutador deve ter uma base forte, uma especialidade. Ele usou o exemplo de Lyoto Machida, que é um especialista em Karate e a partir disso ele treina as outras habilidades que seu estilo não o ofere, como um jogo melhor no solo, por exemplo. Você tem uma base forte em Wrestling, sua prática começa a partir daí. Se não, como disse o próprio Royce, as pessoas seriam, sem tentar ser desrespeitoso, como o Kimbo Slice, que quase não possui técnica.
Severn: Deixe-me contar uma história rápida sobre isso, eu no evento em que ele debutou (o Elite XC: Renegade, em 2007), em Atlantic City, quando ele lutou com um boxeador (Bo Cantrell) e eu era um dos comentaristas. Naquela noite o promotor veio falar comigo depois da luta, ele estava animado, então ele perguntou o que eu achei do combate e eu perguntei a ele: "quanto você deu para apenas um deste caras?". Ele me disse quanto e eu retruquei:." Gostaria de te dar um evento chave, uma noite muito especial: eu lutaria com os dois".. (risos) “Se qualquer um desses caras durar mais de cinco minutos comigo, você não me deve nada ". Ok, que era naquele tempo, porque Kimbo era muito limitado e o outro cavalheiro não tinha outras habilidades, ele era apenas esse “boxer”, foi como quando você viu Randy Couture contra James Toney. Toney ia lá como um bom boxeador, mas Couture não estava lá para a boxear, ele estava lá para realizar uma luta de MMA. Há uma diferença entre as escolas de MMA e atletas, eles aprendem uma habilidade muito bem mas eles se tornam ruins em MMA. Aprendem o Muay Thai muito bem nas escola de Muay Thai, Jiu Jitsu muito bem na escola de Jiu Jitsu, mas eles não percebem que o nome do jogo é “Artes Marciais Mistas”.
BD: No início deste ano você disse que queria lutar novamente Royce Gracie e Mark Coleman, certo?
Severn: Sim, a maioria das pessoas têm alguns lamentos na vida, e às vezes esses lamentos tendem a prejudicá-los um pouco. Eu ainda estou bastante jovem ... bom ... (risos) Eu ainda sou capaz nesse momento de fazer algumas coisas, e para mim, se eu pudesse ter apenas mais três lutas em minha vida eu enfrentaria novamente Mark Coleman, Ken Shamrock e com Royce Gracie. Falei diretamente com o Ken Shamrock e o Mark Coleman, eles têm concordaram em fazer uma luta comigo, eu só estou tentando encontrar uma liga de MMA que possa realizar esses confrontos. Mas agora ambos estão 93 quilos e eu ainda peso em torno dos 110, 120 quilos, sendo assim o Mark me disse que teria ser um catch weight. Há uns meses atrás, quando Gracie comentou sobre o evento que vai acontecer em outono no Brasil, ele foi mostrou interesse em estar no card. Essa notícia foi enviada para mim e eu fiz uma ligação para o escritório do UFC além de enviar uns e-mails onde eu simplesmente disse que se for verdade que o evento vai acontecer no Brasil e o Royce estiver no card eu gostaria de ser levado em consideração como seu oponente. Eu só não tive a oportunidade de falar com Royce, eu falei com alguns representantes que diziam ter interesse, mas nada mais aconteceu. Bom, vou tentar, e se não acontecer antes do final de 2012, vou seguir em frente com minha vida, simplesmente não era para ser.
BD: Você experimentou todas as mudanças sobre as regras, os regulamentos e divisões de peso desde o início do MMA. O que você acha sobre as regras unificadas?
Severn: A realidade é a seguinte: se essas normas não fossem postas em prática, estaríamos falando sobre o UFC ou o "Vale Tudo" apenas como um passado, porque os políticos,os legisladores e os comissários esportivos estavam caindo em cima do esporte. Tinham que fazer essas mudanças, caso contrário, (o MMA) teria se tornado extinto. Eu realmente acho que nos próximos três ou cinco anos o cotovelo será retirado das artes marciais mistas também. Eles ainda permitem a joelhada em um adversário caído, e eu era um dos grandes defensores da retirada do joelho à cabeça, e eu dizia: "mas porque você me permite usá-lo, eu vou usar". Então tiraram a joelhada na cabeça (de um oponente caído) e eu ainda acho que o único. elemento muito perigoso que eles precisam para tirar agora é o cotovelo na cabeça. Porque ele pára a luta por causa do sangue, não por ter parado o oponente fisicamente, mas sim por ter feito um corte à testa, acima do olho e o sangue que sai afeta a visão do atleta. Eu acho que esta será a próxima regra a ser removida.
BD:. Muito obrigado por esta entrevista do Sr. Severn Há algo que você gostaria de adicionar ao leitor é desta entrevista?
Severn: Bem, quando você olha para a minha carreira como lutador amador, wrestler profissional ou lutador de MMA e você olha para todos os títulos que ganhei em todas essas três áreas, você vê que não há nenhum outro homem vivo ou falecido, que chegou perto do que eu tenho realizei, sabendo especialmente que eu fiz isso por minha própria capacidade e não reforçada por produtos químicos como os esteróides. Eu nem sequer me refiro a mim mesmo como um lutador, eu sou um competidor. É uma mentalidade diferente, eu não tenho para conjurar qualquer animosidade contra outro adversário, eu poderia realmente apertar sua mão antes de uma luta e fazê-lo novamente depois e não teria ressentimentos sobre o que aconteceu. Estou muito feliz por ser pago para fazer o que eu gosto de fazer em primeiro lugar. Minha graduação é em educação, eu continuo a ensinar, gosto de dar aulas, comecei a ensinar wrestling amador em 1972, mesmo ano em que eu ganhei meu título nacional. Há um monte de coisas que as pessoas não sabem sobre mim, por isso, se eles têm interesse podem visitar o meu site (
http://www.the-beast.com/), onde podem encontrar muitas informações sobre minha pessoa e minha carreira de lutador.
Eu gostaria de agradecer a Mark Pennington e a própria “Fera”, Dan Severn, por ter sido atencioso o suficiente por tirar parte do seu tempo de treino para fazer essa entrevista.
FONTE :