terça-feira, 5 de julho de 2011

MMA nunca pagará os Milhões do Boxe ?






Por Diego Ribas, do R7




Um dos principais treinadores de boxe no Brasil, com passagens pela seleção olímpica, o paraense Ulysses Pereira já treinou, inclusive, o quatro vezes campeão do mundo Acelino “Popó” Freitas, sobre quem não cansa de dizer que trabalhou junto em três destas grandes conquistas da modalidade para o país.


Acompanhando o momento atual de queda de popularidade do esporte, em contrapartida com o rápido crescimento do MMA junto à mídia, Ulysses, assim como diversos treinadores de ponta das mais variadas artes marciais, também comanda a preparação de atletas do antigo vale-tudo.

- Já que é uma mistura de artes marciais (MMA), os atletas precisam de treinadores qualificados em todas as áreas, como eu, Dorea, e Distak no boxe, por exemplo. Comecei no MMA com o Vitor Belfort, mas depois trabalhei com o Wanderlei Silva, Shogun, Cris Cyborg, Lyoto Machida, entre outros.

Morando em Belém, onde coordena os treinos de mais de 300 alunos entre profissionais, amadores e apenas praticantes, o técnico, que acompanha de perto a realidade dos dois esportes, foge do discurso padrão e alfineta os amantes incondicionais da mistura de artes marciais.

- Muita gente fala que o MMA está tomando o espaço do boxe, mas isso é errado. O MMA está ganhando seu próprio espaço. No boxe profissional você vê lutadores ganhando até US$ 20 milhões, como o Many Pacquiao, coisa que o MMA nunca vai pagar, pode ter certeza.

Aproveitando a passagem de Ulysses no Espírito Santo no último fim de semana (25) para acompanhar a luta de Illiarde Santos no Jungle Fight, o treinador conversou com exclusividade com o R7. Leia a seguir.

R7 – Ulysses, como você passou a treinar atletas de MMA?
Ulysses - Minha carreira no MMA começou quando eu treinei o Vitor Belfort, que inclusive foi campeão do UFC em cima do Randy Couture quando estava comigo. Depois veio o Wanderlei Silva, Maurício Shogun, Cris Cyborg, Evangelista Cyborg, Daniel Acácio, entre outros. Agora estou em Belém, onde já treinei o próprio Lyoto Machida. Mas que fique claro, sou um professor de boxe, e não de MMA. Sou contratado para afiar as mãos dos atletas para o MMA.

R7 – Qual a diferença do treinamento de boxe para o MMA e de boxe profissional?
Ulysses - Trabalho com outras combinações de golpes. A distância também é outra, além da forma de movimentação. No MMA não se pode abrir espaço para ser colocado para baixo ou tomar um chute. Então, há diferença técnica e tática. No MMA, eu trabalho até mesmo a forma de bater no ground and Pound. São diferenças mínimas, mas que fazem a diferença.

R7 – Você vê muita dificuldade em treinar um atleta com origens em outras modalidades, como o jiu-jitsu, ao invés de um boxeador puro?
Ulysses - Não. Trabalhei com alguns lutadores de jiu-jitsu, inclusive com o André Galvão, que é muito bom e campeão mundial. Por incrível que pareça, a inteligência que ele desenvolve no jogo de chão, ele também desenvolve para o boxe. Ele trabalhava muito bem comigo, e espero treinarmos juntos de novo.

R7 – Hoje, morando em Belém, quantos atletas você treina?
Ulysses – Treino mais de 300 lutadores entre atletas de MMA, boxe olímpico e profissional. Só no meu projeto social eu tenho 80. Também treino lutadores de muay thai e jiu-jitsu, cada um com a sua qualidade e sua necessidade.

R7 – E no MMA, quem são os seus principais atletas?
Ulysses - Na minha academia tenho o Illiarde Santos, que vem despontando no Jungle Fight, o Paulão, o Breno, Bira, que é um peso pesado bem forte, entre outros. São muitos, mas a dificuldade é a distância que essa garotada enfrenta para lutar em eventos de maior visibilidade.

R7 – Como você vê o cenário de atletas no Pará?
Ulysses – Temos muitos atletas de ponta como o Yuri Marajó, Sapo, Lyoto, Queixinho, Michel Trator, enfim, são vários, o Pará é um celeiro de grandes lutadores de MMA. Se tivéssemos um pouco mais de apoio, o Pará iria revelar muitos mais atletas de ponta.

R7 – Você acha que a tendência é que os treinadores de boxe também migrem para o MMA?
Ulysses - A tendência é crescer. Muita gente fala que o MMA está tomando o espaço do boxe, mas isso é errado. O MMA está conquistando seu próprio espaço. O boxe é milenar, uma das modalidades mais antigas nas Olimpíadas, essa comparação nem deveria ser feita. No boxe profissional você vê lutadores ganhando até US$ 20 milhões, como o Many Pacquiao, coisa que o MMA nunca vai pagar, pode ter certeza. Nós, treinadores, temos a obrigação e buscamos a evolução sempre. Já que é a mistura de artes marciais, os atletas precisam de treinadores qualificados em todas as áreas, como eu, Dorea, e Distak no boxe, por exemplo.

R7 – Qual a sua meta como treinador de atletas que disputam MMA?
Ulysses - Tenho o meu centro de treinamento, que é a maior academia de boxe da América do Sul, com 100 metros de comprimento, 44 sacos de boxe, ringue, tatame e octógono. Minha meta é, com o meu boxe, trabalhar com lutadores cada vez mais de ponta e aprimorar e fazer campeões, assim como o Illiarde Santos, que começou ali na nossa academia, e hoje está há um passo de lutar no exterior.

R7 – Porque você acha que o boxe perdeu espaço na mídia brasileira?
Ulysses – O boxe nunca fez parte da cultura brasileira. Tivemos o Popó, agora por último, e antes o Maguila, Miguel de Oliveira e o campeão Éder Jofre. O jiujitsu não, foi uma modalidade praticada por pessoas com melhor situação financeira. Então, quando surgiu o MMA, ele era praticado por atletas de jiu-jitsu, e a probabilidade de crescer rapidamente pela própria condição econômica dos praticantes era muito maior.

R7 – Para terminar, qual o melhor boxeador entre os alunos de MMA que já passaram pelas suas mãos?
Ulysses - O Vitor Belfort, com certeza. Ele tem um boxe muito afiado.







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